Evento é a instância máxima de deliberações sobre o Serviço Social no Brasil e aconteceu em Cuiabá na última semana
O Conselho Federal de Serviço Social e seus respectivos Conselhos Regionais realizaram, entre os dias 13 e 16/10, o 45º Encontro Nacional do Conjunto CFESS-CRESS. O evento aconteceu em Cuiabá (MT) e teve como tema “É preciso estar atento/a e forte”. O Encontro Nacional é a instância máxima de deliberação das ações do Serviço Social brasileiro e abordou a conjuntura atual e, principalmente, os desafios da profissão.
Na mesa de abertura do evento, a estudante de Serviço Social e representante da Enesso, Mariana Alves Alexandre, destacou a nova gestão da executiva de estudantes, que segue lutando contra o machismo, o racismo, a homofobia, a intolerância religiosa e toda forma de opressão, em especial na conjuntura atual de avanço do conservadorismo. “Com o compromisso de luta em defesa da classe trabalhadora, queremos fortalecer a mobilização estudantil e, em aliança com a Abepss e o Conjunto CFESS-CRESS, seguiremos resistindo!”, enfatizou a estudante.
O professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e representante da Abepss, Paulo Wescley, ressaltou a importância das três etapas dos Encontros Nacionais ao longo da gestão no Conjunto CFESS-CRESS. “São fundamentais as fases de elaboração, monitoramento e avaliação das ações do Conjunto, principalmente com os desafios que o governo ilegítimo no Brasil nos coloca cada vez com mais rapidez e intensidade. Mas cada assistente social aqui presente está firme na luta contra os retrocessos e na defesa dos direitos de trabalhadores e trabalhadoras deste País”, afirmou o professor.
Para a presidente do CRESS-MT, Vera Lúcia Honório, o compromisso da categoria de assistentes sociais é com a defesa dos direitos sociais e das condições de vida da classe trabalhadora. “Em uma conjuntura tão adversa e delicada, estamos aqui para reafirmar nossas lutas e construir coletivamente as estratégias que colocarão nossos projetos em prática, baseadas nos princípios e diretrizes construídos ao longo dos anos por nossa profissão”, completou a conselheira.
O CFESS for representado pelo presidente Maurílio Matos, que explicou sobre a etapa de avaliação do 45º Encontro Nacional, dando continuidade à implementação da nova metodologia do evento. “Naturalmente, sabemos que, nessa avaliação, o encontro será permeado por análises e reflexões sobre a conjuntura atual. E, mais do que analisar, vamos sair daqui com propostas para enfrentar a realidade que o governo ilegítimo de Temer impõe, com inúmeros retrocessos para a classe trabalhadora”, alertou o presidente do CFESS. E finalizou: “vamos fazer desse Encontro Nacional mais uma reafirmação de que o Serviço Social brasileiro está atento e forte, na luta pela liberdade, democracia, direitos humanos, contra todas as formas de arbítrio, autoritarismo e criminalização dos movimentos sociais!”.
Mesa de abertura do Encontro Nacional, com representantes da Enesso, Cress-MT, Cfess e Abepss (foto: Iajima Silena/Cress-BA)
Conjuntura e o impacto na organização política da categoria
É inimaginável discutir o trabalho e a organização política da categoria sem considerar a conjuntura. Esta foi, portanto, a tarefa da primeira mesa de debates do 45º Encontro Nacional: fazer uma análise crítica da realidade brasileira a partir da crise do capital, a intensificação dos ataques à classe trabalhadora pelo governo Temer, explícita ofensiva reacionária, e possíveis caminhos de resistência e luta de assistentes sociais.
O assistente social e professor da UERJ, Jefferson Lee, afirmou que não há apenas uma explicação para a conjuntura brasileira e que ela não está descolada do mundo. Portanto, se o capitalismo está passando por uma de suas crises mais longas e profundas, e se o capital tem buscado novas formas de lucratividade, é lógico que tudo isso impacta nos países periféricos. “Basta ver que tem sido feito (isolamento) com a Venezuela. Os capitalistas não estão vendo a banda passar tranquilamente e têm buscado reorganizar forcas internacionais”, analisa.
O assistente social e professor da UERJ, Jefferson Lee, apontou a necessidade de se fazer uma autocrítica no campo da esquerda como um dos caminhos para reorganização das forças políticas de luta (foto:Diogo Adjuto/CFESS)
Em seguida, foi a vez da conselheira do CFESS e professora da UFRN, Daniela Neves, fazer sua análise. Ela também apontou que é na crise que o capital se redesenha e se reproduz, assumindo formas cada vez mais violentas de exploração da força de trabalho. “E o Brasil é uma de suas formas de acumulação na periferia capitalista”. Outro alerta que a Daniela fez tem relação com as mudanças dramáticas na cultura e no modo de pensamento, estratégias também do capital para reforçar sua ideologia. Por isso, é preciso ter atenção com interpretações errôneas da conjuntura, que pode levar a políticas e ações que aprofundarão a crise e a miséria.
A conselheira do CFESS e professora da UFRN, Daniela Neves, apontou estratégias do Conjunto CFESS-CRESS de enfrentamento à contrarreforma em curso do Estado (foto:Diogo Adjuto/CFESS)
Voz para a arte e oprimidos
O segundo dia do evento começou com a conselheira do CFESS, Sandra Teixeira, apresentando algumas aplicações da obra Fundos Murrado, de Bispo do Rosário, em produções do Serviço Social. “Uma das inspirações baseadas na arte do artista está na capa do Código de Ética da categoria. Arthur Bispo do Rosário é uma figura lendária e representa, para o Serviço Social, cada usuário/a das políticas e serviços sociais”, afirmou a conselheira.
Conselheira do CFESS Sandra Teixeira e a assistente social da Fiocruz/RJ Conceição Robaina falam, respectivamente, sobre a aplicação da arte de Arthur Bispo no Serviço Social e a trajetória do artista (foto: Diogo Adjuto/CFESS)
Arthur Bispo do Rosário nasceu em Sergipe em 1909. Foi marinheiro, borracheiro e boxeador. Um dia, começou a ouvir vozes, foi até o Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, onde solenemente anunciou aos monges: “Sou o enviado de Deus, encarregado de julgar os vivos e os mortos”. Enviado a um manicômio, recebeu o diagnóstico de “esquizofrenia paranóide” e foi internado na Colônia Juliano Moreira (RJ). A assistente social da Fiocruz/RJ, Conceição Robaina, que também compôs mesa no evento, era técnica de referência na Colônia nesta época e contou um pouco de sua atuação junto ao artista, cuja obra serve de inspiração para uma serie de materiais do Serviço Social brasileiro.
Conceição Robaina destacou que “toda a história de vida dele, a família do artista, passam a ser a historia que ele escolhe, a partir de um dado momento de sua vida. Parte dessas informações vem de investigação, de prontuário da história dele, realizada por pesquisadores/as e muito nos emociona”.
Ainda nesse momento, a conselheira do CFESS Sandra Teixeira explicou aos/às participantes o processo de Recadastramento Nacional Obrigatório de Assistentes Sociais, que terá início ainda em 2016. O novo documento de identidade profissional (DIP), que poderá ser solicitado em breve pela categoria, traz a mais nova aplicação da arte de Bispo. “Nosso objetivo de fortalecer a identidade profissional é não só no sentido de que assistentes sociais possam ter a opção de acessar um novo documento, como também para que possamos atualizar os dados da categoria em todo o Brasil, conhecer as atividades desempenhadas pela categoria e fortalecer nossas ações na defesa dos direitos e das condições de trabalho dos/as assistentes sociais”, explicou a conselheira.
Nova metodologia
Ainda na manhã de sexta-feira, o presidente do CFESS, Maurílio Matos, fez uma exposição sobre a metodologia do encontro, tratando dos aspectos específicos da etapa de 2016, de avaliação das deliberações. A parte da tarde teve início com os primeiros eixos temáticos do Encontro Nacional: administrativo-financeiro e fiscalização profissional.
As atividades prosseguiram durante a noite, com a Plenária para Aprovação da Política Nacional de Enfrentamento à Inadimplência. A vice-presidente do CFESS, Esther Lemos e a conselheira do CRESS-SP, Kelly Melatti, apresentaram o documento construído pelo grupo de trabalho nacional e a minuta de resolução do CFESS, que regulamenta a Política Nacional.
O presidente do CFESS, Maurilio Matos, explica sobre a metodologia do evento (foto: Diogo Adjuto/CFESS)
“Esse documento, que irá balizar as ações educativas e estratégicas de enfrentamento da inadimplência nos CRESS, foi construído com base no levantamento e sistematização das regulamentações relacionadas à inadimplência junto aos Regionais e certamente será fundamental para o fortalecimento de nossas entidades e da categoria”, avaliou Esther Lemos.
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