Olá, assistente social!
Nesta página você confere os “extratos virtuais” da Agenda 2022 – Para inflamar nossa práxis da resistência!
Pelo segundo ano consecutivo, produzimos esse conteúdo digital, uma extensão da nossa Agenda, como uma forma de socializar e ampliar o alcance do seu conteúdo! Nas palavras da poetisa Carolina Luisa Costa, “qualquer gesto é fósforo aceso”. Que este conteúdo provoque uma chama de esperança, de indignação, de reflexão. Que inflame a práxis da resistência!
Aqui você vai encontrar:
– O planner (planejador) mensal, que pode ser usado virtualmente ou impresso;
– Os fundos de tela mensais para seu computador, com o calendário de lutas do Serviço Social;
E extratos da agenda, como:
– Sugestões de material audiovisual;
– Entrevista Serviço Social e a questão Racial.
‘Planner’ (ou planejador) para imprimir
O ‘planner’, em arquivo PDF, possui 24 páginas coloridas no formato A4 (paisagem) e está pronto para ser impresso e utilizado. Possui os calendários mensais, de janeiro a dezembro, com espaços em branco nos dias, para agendar compromissos, tarefas etc. O documento traz também os textos, ilustrações e imagens que compõem as divisórias da Agenda 2022.
Baixe o e imprima o planejador (formato PDF)
‘Planner’ (ou planejador) para usar no computador
Caso não queira imprimir, você pode preencher o ‘planner’ no seu computador, que está em arquivo de Power Point. Basta preencher os campos de texto em aberto com seus compromissos diários.
Baixe o planejador para ser usado co comuptador (apresentação em slides/formato PPTX).
Dica: caso tenha uma conta do Google, você pode importar esse arquivo no Google Docs de Apresentação, e utilizá-lo on-line, como um planejador virtual. Para isso, siga os passos:
1. Salve o Planner no seu computador;
2. Abra o Google Docs Apresentação (https://docs.google.com/presentation/u/0/);
3. Crie uma nova apresentação (em branco);
4. No menu superior, vá em Arquivo/Configuração de Página/Personalizado, coloque as dimensões 29,7 x 21 cm e clique em aplicar;
5. Ainda no menu superior, vá em Arquivo/Importar slides, clique em upload e selecione o arquivo salvo. Selecione a opção tudo (para selecionar todos os slides); e
6. Apague a página em branco e pronto! Você poderá usá-lo on-line, preenchendo os campos vazios. Ele deve ficar assim: Planner Virtual 2022 Assistente Social
Fundos de tela com calendário
Você pode usar as imagens e os calendários da agenda para colorir a tela do seu computador. Tem uma imagem para cada mês.
Dica: Saiba como usar a imagem como fundo de tela!
1. Clique na imagem, use o botão direito do mouse para salvá-la no seu computador;
2. Com a imagem salva no seu computador, clique com o botão direita sobre o arquivo salvo e escolha a opção Definir a imagem como fundo de tela; e
3. Pronto, agora você tem o fundo de tela!
Sugestões de audiovisual
Hiato (documentário). Retrata um ato realizado pelo MTST em 2008 para dar visibilidade a condição das famílias pauperizadas
Ilha das Flores (documentário do diretor Jorge Furtado).
As Mulheres e o Cárcere (documentário da Pastoral Carcerária)
Olhos Azuis (documentário sobre questão racial)
Há, branco! Dá um tempo! Construindo espaço (mini-documentário)
Filme M8 – Quando a morte socorre a vida (Diretor Jeferson De) Trata aspectos da estrutura racista da sociedade a partir da experiência de um estudante negro do curso de medicina.
ENTREVISTA ESPECIAL
O Serviço Social e o debate étnico-racial
A inserção da temática étnico-racial no debate da profissão ocorre ao final dos anos 1980, a partir do impulso das lutas do movimento negro e da intervenção política e teórica de professores/as de Serviço Social e de assistentes sociais, vinculados/as ao Movimento Negro. Era fundamental que o debate da questão social no Brasil ocorresse também na perspectiva da questão racial.
Ao longo de quase três décadas, a temática foi ganhando corpo na profissão, e se espraiou mais recentemente para o interior da categoria com a campanha Assistentes Sociais no Combate ao Racismo (2017-2020).
A seguir, você confere entrevistas com três assistentes sociais negras que, ao longo de suas vidas, estiveram ligadas à temática: a professora Magali Almeida, pesquisadora, professora UFBA e militante do movimento negro; e as assistentes sociais e conselheiras do CFESS Dácia Teles e Mauricleia Soares.
Magali, Dácia e Mauricleia
CFESS – Qual a sua caracterização sobre o racismo na sociedade brasileira atual e que consequências traz para a vida das mulheres negras, em particular?
Magali Almeida – O debate sobre as desigualdades sociais, econômicas e políticas no Brasil tem sido realizado sem considerar as assimetrias raciais e de gênero contidas internamente em nossa sociedade. Há uma ausência, um silenciamento naturalizado pela convicção de que no Brasil há racismo, mas não há racistas operando a violência discriminatória. O mito da democracia racial é acionado como justificativa.
Em minha opinião, a análise da questão social não pode ocorrer apartada da questão racial e do racismo como ideologia de dominação. A raça (como construção social do fenótipo) não é apenas um resquício da escravidão, mas um elemento fundamental da exploração de classe, da reprodução da desigualdade social e da divisão sexual e internacional do trabalho e sua refuncionalização opera na história.
A memória do tráfico transatlântico, que perdurou no Brasil durante quase 400 anos (o último país a abolir a escravidão nas Américas), deve ser mantida viva! Esse fato histórico, que acumulou riqueza e explorou e oprimiu corpos negros e indígenas e os gentrificou, conforme interesses da produção e reprodução social, foi considerado crime contra a humanidade em 2001, na Conferência de Durban (África do Sul). Homens, mulheres, crianças lotaram os porões dos negreiros, para alimentar o escravismo de africanas/os no Brasil. O empreendimento lusitano sequestrou para o Brasil em torno de 5 milhões de pessoas, de centenas de etnias africanas e, embora o regime escravo tenha findado formalmente em 1888, o Estado brasileiro não apresentou nenhuma política reparatória para a população negra e sequer garantiu direitos de cidadania no regime republicano. A memória da escravidão está viva nas mazelas experimentadas pela população negra até os dias de hoje. O estupro das mulheres negras, mas não exclusivamente; o trabalho extenuante na lavoura ou no trabalho de cuidado e de limpeza não pagos no escravismo perseverarão no trabalho assalariado, na divisão racial e sexual do trabalho livre, muitas vezes não pagos, como foi o caso do trabalho doméstico no Brasil.
As refrações da questão social que incidem sobre esta população têm suas raízes na escravidão e foram reconfiguradas no trabalho livre. A desigualdade racial entre negros/as e brancos/as no Brasil republicano não é, de modo algum, resquício da escravidão. Ao contrário, diz respeito ao padrão de relações sociais de dominação/opressão da extensa colonialidade do poder e do saber, que atravessa séculos de dominação mantida pelas classes dominantes e pelos/as intelectuais orgânicos/as a seu serviço. Engana-se quem crê que o capitalismo é capaz de humanizar e desatar os grilhões do colonialismo. A ideia de raça na Modernidade é central na forja de identidades inferiorizadas que, naturalizadas pelo poder dominante, cumprem a função demarcadora dos lugares sociais e de controle do trabalho. Logo, raça, gênero e divisão do trabalho se complementam dialeticamente no capitalismo.
Considero atual o debate sobre racismo patriarcal trazido por Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Sueli Carneiro e Luiza Bairros, desde o final dos anos de 1970. Sem dúvida, devemos lê-las com mais frequência e interesse e acionar suas formulações críticas sobre racismo e sexismo de forma interseccional, como tecnologias e racionalidades contra-hegemônicas constitutivas de experiências coletivas enquanto mulheres negrasamefricalatinas, em luta contra os efeitos discriminatórios desses eixos de subordinação em nossas vidas. Contudo, as mulheres negras têm sido o corpo abjeto no ordenamento da supremacia branca, do patriarcado e do trabalho assalariado na sociedade do capital. Durante a pandemia de covid-19, a maior incidência de morte em mulheres grávidas recai nas mulheres negras. Além disso, os piores postos de trabalho e com maiores chances de desproteção, a baixa escolaridade, a moradia precária em territórios de favela, a violência doméstica e obstétrica são expressões do racismo.
Dácia teles e Mauricleia Soares – O Brasil que existe hoje foi construído pelo suor, sangue e lágrimas de mais de 4 milhões de negros e negras escravizadas e sua descendência. No Brasil, o racismo é institucionalizado pelo Estado, pelos governos e pela burguesia brasileira, que tentam suavizar a realidade a partir da falácia da democracia racial e do embranquecimento da população brasileira.
O racismo está na base da formação do capitalismo brasileiro e os/as negros/as representam o setor mais explorado, sem contar seu peso numérico. Assim, é necessário entender que o racismo no Brasil serviu para violar os direitos da classe trabalhadora, e que o combate a essas violações requer o fim da propriedade privada, ou seja, uma luta que articule necessariamente as dimensões de raça e classe contra o capital.
A consequência dessa construção para as mulheres negras vem desde o sistema escravista. No sistema capitalista, o homem negro e a mulher negra, escravo/a, é propriedade da burguesia. Logo, não menos do que unidades de trabalho lucrativas, para os proprietários de escravos/as, as mulheres poderiam ser desprovidas de gênero.
Reconhecemos a luta de nossas ancestrais, que lutaram contra a escravidão e a violência, e não se dobraram nem se venderam diante dessa realidade. Esse sistema não pode ser “humanizado”, pois foi construído com a nossa escravidão e se mantém com nossa exploração. O estado e a burguesia se beneficiam dos baixos salários, do trabalho informal, do desemprego.
Nossa luta deve ser pela destruição do capitalismo e de todas as formas de opressão.
CFESS – Quais dificuldades centrais destacaria para o enfrentamento desse quadro e quais desafios teóricos, políticos e organizativos da luta contra o racismo na atualidade? Como o Serviço Social pode contribuir com essa luta?
Magali Almeida – Por um longo período de tempo, a academia brasileira não veiculou o ponto de vista teórico das/os intelectuais negras/os que apontavam para a crítica ao racismo e de seu caráter estrutural e estruturante das relações sociais, do trabalho e da formação da classe trabalhadora brasileira, como o fez, por exemplo, Clovis Moura, que deixou um legado importante para a luta anticapitalista, quando elabora a categoria práxis negra, por meio da qual alça a luta negra como luta de classes.
Em direção analítica similar, Guerreiro Ramos afirmava que as interpretações dos fenômenos sociais no Brasil, sobretudo o olhar desta sobre a condição do negro brasileiro, desconsidera a centralidade da raça na formação sócio-histórica brasileira, a escravidão e seus efeitos.
Temos um grande desafio no enfrentamento do racismo hoje, não apenas de ordem política, no que se refere à nossa organização enquanto classe que vive do trabalho, mas também teórico. Precisamos nos debruçar nos estudos sobre as vivas raízes eugênicas prevalecentes na atualidade. O tema só recentemente chamou a atenção do debate teórico do Serviço Social brasileiro, apesar de sua constituição na fundação da profissão. A eugenia não apenas mantém privilégios da branquidade, mas atinge e ordena a divisão racial e sexual do trabalho no capitalismo. É expressivo desse ordenamento a limpeza racial escancarada na “guerra às drogas”, das populações negra/indígena/refugiada que vivem nas ruas e do superencarceramento da população negra. Essa realidade indica quem serão nossas/os aliadas/os no atual contexto de desproteção do trabalho e recuo das entidades sindicais, na trincheira de luta nos próximos tempos. Como afirma Lélia Gonzalez, não haverá uma verdadeira democracia racial se a questão racial não for assumida pelo conjunto da sociedade brasileira e a/o negra/o não for incorporada/o na vida nacional em todos os sentidos e dimensões.
O Serviço Social precisa enfrentar a formação antirracista na perspectiva de totalidade social e feminista, na formação e no exercício profissional, sob pena de esse debate ser conduzido em uma perspectiva conservadora. Acredito que o grande desafio é o enfrentamento do mito da democracia racial e seu lugar de funcionalidade na reordenação da crise contemporânea do capital.
Dácia Teles e Mauricleia Soares – O pensamento liberal aqui estabelecido foi erguido contraditoriamente sobre o trabalho escravo, que alijou a população negra do acesso ao trabalho assalariado, à moradia, à saúde, à educação, à alimentação e demais direitos. Nossa herança vem do período escravocrata, constatamos na atualidade práticas discriminatórias e violentas, pois a formação econômica, social e política da classe trabalhadora brasileira tem sua base na escravidão.
A desigualdade social que atinge a classe trabalhadora, formada pela maioria de homens negros e mulheres negras, gerada pela má distribuição da renda, pela segregação e marginalização, é historicamente construída na sociedade.
A Constituição Federal de 1988 expressa que “Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. Porém o abismo entre o texto legal e a realidade da maioria da população brasileira é abissal. A negação do direito à vida é uma tortura cotidiana na vida de brasileiros/as neste país. E quem é preta e pobre sente primeiro os cortes de direitos humanos e sociais. As oportunidades de “igualdade” inexistem e o acesso a bens e serviços não é o mesmo para toda a população. A pobreza tem relação com processos históricos que se influenciam reciprocamente – colonização, o regime escravocrata e o desenvolvimento econômico do país.
Para a superação imediata dessa situação, temos que fazer a defesa da unificação das lutas do movimento negro, com uma única pauta, exigindo reparações ao Estado, pois a escravidão deve ser entendida como um crime praticado contra a humanidade. Reconhecê-la como um crime que violou massivamente os direitos humanos exige reparações imediatas.
Para um povo que teve uma das histórias mais heroicas do mundo e que sabe muito pouco sobre isso, a sua abnegação para lutar pelo socialismo pode ter como base de sustentação o resgate da sua herança histórica, alicerçada numa consciência de raça e classe, vivenciada nos Quilombos. Vamos aquilombar!
O Serviço Social brasileiro tem construído sua identidade profissional fundamentada hegemonicamente em uma perspectiva teórico-metodológica classista, comprometida com a defesa dos direitos da classe trabalhadora e com um projeto societário emancipador. Sabemos que é nosso dever ético o “empenho na eliminação de todas as formas de preconceito” e a “defesa intransigente dos direitos humanos, e a recusa do arbítrio e do autoritarismo”.
Nas nossas intervenções como assistentes sociais, para formular diretrizes, programas, projetos e ações, é necessário considerar a dimensão racial das demandas associadas aos serviços que, sabemos, muitas vezes sequer são percebidas pelos/as usuários/as, em função da ideologia da “democracia racial brasileira”, implementada pela burguesia.
Conteúdo: CFESS.
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