Uma parceria que espera importantes resultados. O Lótus: Grupo de Estudos dos Fundamentos da Política Social e Serviço Social, da UFES, procurou o Conselho Regional de Serviço Social do Espírito Santo (CRESS-ES), por meio da Comissão de Orientação e Fiscalização (COFI), para construir um projeto de extensão. Intitulado “Os fundamentos do trabalho da/o assistente social no Estado do Espírito Santo em tempos de Pandemia”, esse projeto de extensão tem como objetivo propor pesquisas e ações voltadas para esta categoria profissional do Espírito Santo.
O interesse partiu das coordenadoras do Lótus, as professoras doutoras Andréa Monteiro Dalton e Jeane Andrea Ferraz Silva, ambas do Departamento de Serviço Social da UFES. “Somos assistentes sociais que desempenhamos a atribuição privativa da docência na UFES. Para além das nossas atividades no âmbito do ensino, possuímos também a atribuição de desenvolver pesquisa e extensão através de núcleos. O Lótus, que possui enquanto proposta central o debate dos fundamentos da Política Social e do Serviço Social, desenvolveu o projeto tendo por base também a nossa trajetória”, contam as professoras, em entrevista ao CRESS-ES.
Andréa foi agente fiscal do CRESS-ES por quatro anos, enquanto Jeane já foi presidenta deste Conselho. De lá para cá, o compromisso de fortalecer o trabalho da COFI e do CRESS por meio de parcerias com a universidade, que possui em sua natureza a pesquisa e a formação, sempre esteve no horizonte das duas professoras. O que as motivou a lançar a proposta do Projeto de Extensão.
O projeto foi apresentado, inicialmente, na Comissão de Orientação e Fiscalização (COFI), sendo debatido e aprovado em reunião do Conselho Pleno. “A gestão ‘É preciso estar atenta e forte’ compreendeu que a construção do projeto de extensão poderia ser uma mediação estratégica para contribuir na efetivação do projeto ético político profissional”, explica o conselheiro Carlos Augusto da Silva Costa, que ao lado da agente fiscal Sislene Pereira Gomes, representam o CRESS-ES nessa parceria.
Proposta
O Projeto de Extensão será desenvolvido por meio de duas frentes:
1) Pesquisa: onde a equipe fará o levantamento de informações junto a COFI e analisará as principais tendências, traduzindo em demandas, e elaborando uma análise de como a pandemia rebate no trabalho profissional no estado;
2) Formação: a partir dos dados levantados e analisados na etapa da pesquisa, a equipe definirá eixos e formato para promover debates para a categoria que atua no Espírito Santo.
Objetivos
E, por meio dessas ações, o projeto de extensão busca contribuir com o debate dos fundamentos do Serviço Social no contexto da pandemia do novo coronavírus, visando fortalecer a profissão e os profissionais na perspectiva de busca de estratégias coletivas de formação e de investigação condizentes com a realidade desta profissão no Espírito Santo.
De forma orgânica, com o CRESS-ES participando de todas as etapas do projeto, conjuntamente com o Lótus, este projeto ainda se propõe a envolver assistentes sociais de todo o estado, atuantes na Seguridade Social. E, assim, atingir os 78 municípios capixabas.
Saiba mais sobre o projeto logo abaixo. Fizemos uma entrevista com as coordenadoras do Lótus, as professoras doutoras Andréa e Jeane; e com o conselheiro Carlos Augusto e a agente fiscal Sislene, representantes do CRESS-ES nessa parceria. Confira!
Qual é a importância desse projeto para o Lótus, o Departamento de Serviço Social e a Ufes?
Lótus – A universidade possui enquanto tripé o ensino, a pesquisa e a extensão. Nós docentes, portanto, temos a atribuição de desenvolver ensino, pesquisa e extensão também através dos núcleos ou grupos. O Lótus tem vinculação com o departamento e a universidade. Neste sentido, a importância de desenvolvermos projetos de extensão com essas características são fundamentais para materializamos e fortalecermos nosso compromisso com a sociedade, a entidade e com a categoria de assistentes sociais do estado.
E qual é a importância desse projeto para o CRESS-ES e, também, para as/os profissionais de Serviço Social?
CRESS-ES – Muito relevante por compreender como essencial a prática da pesquisa para conhecimento da realidade, especialmente em tempos de negacionismo e anticiência. Recebemos a proposta com êxito, pois sabemos que a COFI possui dados e registros de atendimentos à categoria em diversas áreas de atuação e, nesse sentido, se mostra como uma rica fonte de pesquisa para compreender o processo de trabalho dos/as assistentes sociais no estado. Isso coaduna com o que as proponentes do projeto defendem.
Qual a necessidade e a importância de analisar a intervenção profissional em tempos de pandemia do novo coronavírus?
Lótus – É fundamental analisarmos nossa realidade de forma crítica e propositiva. Temos nossa intervenção voltada para as expressões da questão social que, diante da crise estrutural do capital e com a pandemia, trazem muitos impactos e consequências à classe trabalhadora e, portanto, para o conjunto de assistentes sociais, que tem sido linha de frente no enfrentamento ao vírus e seus desdobramentos no âmbito das políticas sociais. Desta forma, analisar essa realidade nos possibilita conhecer as demandas e impactos nas condições de trabalho da categoria. Compreendemos, também, que tais ações possuem na sua centralidade o fortalecimento dos fundamentos da profissão, defesa intransigente dos direitos humanos e com o compromisso com a formação permanente, conforme princípios do nosso Projeto Ético Político.
CRESS-ES – Necessitamos analisar como tem se dado a intervenção da nossa categoria em tempos tão difíceis como esses. Considerando sermos profissionais inseridos/as na linha de frente dos serviços essenciais, mas que historicamente nunca saímos dela. Atuamos nas diversas políticas públicas que vêm sofrendo com desmonte e sucateamento bem antes do período da pandemia, a partir da intensificação da lógica operada pelo sistema capitalista de mínimo para o social e máximo para o capital. Agora, evidenciou a extrema importância para a população usuária dessas políticas, que sofre com o desemprego, a fome e a contaminação pela Covid-19.
As medidas adotadas pelo governo, nos últimos anos, e acirradas pelo contexto de crise pandêmica, têm agudizado as condições de vida da população. Enquanto assistentes sociais, essa conjuntura nos impõe uma série de desafios: demandas cada vez mais complexas, vínculos contratuais fragilizados, equipamentos sucateados e exigência por intervenções profissionais imediatistas. Entre os limites e as possibilidades, é necessário conhecer a realidade profissional para defender a qualidade dos serviços prestados à população diante de uma conjuntura tão adversa, de forma a construir uma intervenção qualificada.
Quais são os desafios presentes na intervenção, por parte da atuação da COFI, neste período de pandemia do novo coronavírus?
CRESS-ES – O principal desafio é se aproximar da atuação profissional com as condições impostas no contexto atual. O CRESS-ES, assim como os demais CRESS de outros estados, adotou medidas de biossegurança de acordo com as orientações de órgãos sanitários. Desse modo, estamos em home office desde o início da pandemia, o que exige nos reinventar para apresentar canais de contato da categoria com a Comissão. O uso de tecnologia de Informação e Comunicação-TICs vem sendo uma alternativa, assim como a intensificação de orientações disponibilizadas por meio de boletim e entrevista.
Aproveitamos para destacar as produções que a COFI tem elaborado acerca do contexto de pandemia e intervenção profissional, sobretudo pelas publicações dos “Boletins COFI” (acesse os conteúdos no final da entrevista). Convidamos a categoria a acompanhar o site do CRESS-ES e se inteirar sobre a produção dos materiais que apresentam mediações com a realidade na qual incide o trabalho das/os assistentes sociais.
De que forma o projeto será desenvolvido? Quais são suas etapas?
Lótus – O projeto é desenvolvido através de uma equipe composta pelos membros do Lótus e do CRESS-ES. A ideia é construir coletivamente. Desde o início do projeto alinhamos organicamente com a gestão do CRESS no sentido de construir o projeto juntos. Foram várias reuniões para estabelecermos o planejamento e o desenho do projeto, um diálogo iniciado ainda no primeiro trimestre de 2020. Desta forma, desde a concepção até a construção do projeto, propriamente dito, tudo foi realizado coletivamente. Portanto, é importante dizer que o projeto não pressupõe coleta de dados da COFI e sim construir coletivamente a pesquisa e as estratégias de formação.
A partir dessas premissas de trabalho coletivo, construímos duas etapas: uma primeira que entendemos que será transversal, a pesquisa, e uma outra que será estratégias de formação. Importante dizer que, como estamos construindo juntos e desejamos dialogar com a categoria sobre aspectos que já levantamos num primeiro momento de pesquisa, faremos o Seminário (atividade prevista para o dia 27 de maio, dentro da programação do Mês Maio) com o intuito de sanar algumas lacunas dos dados preliminares. Nesse sentido, é importante dizer que o Seminário não é atividade fim do projeto e, sim, meio.
Dentre os objetivos traçados pelo projeto, qual teria principal relevância para as/os assistentes sociais?
Lótus – Conforme exposto, compreendemos que os objetivos do projeto são relevantes em sua integralidade, uma vez que estamos construindo pesquisa para fomentar estratégias de formação com e para a categoria.
O que o CRESS-ES espera alcançar com essa parceria?
CRESS-ES – Temos expectativas bem elevadas que o resultado dessa parceria trará elementos para pensarmos o Serviço Social na contemporaneidade diante dos desafios complexos que atravessam o processo de trabalho de assistentes sociais. Já temos algumas impressões, análises preliminares que iremos compartilhar no seminário, a ser realizado no dia 27 de maio. Um diálogo entre CRESS, UFES e a categoria, dando início a essa parceria potente, voltada à defesa do Serviço Social e seu projeto ético-político.
O cotidiano de trabalho, marcado pela exigência de respostas imediatas e, muitas vezes, alheias às competências e atribuições da profissão, exige a construção de estratégias sócio-políticas e profissionais para defesa do Serviço Social em nossa sociedade. Deste modo, a gestão do CRESS-ES espera que esta parceria possa fortalecer os valores contidos no Projeto Ético Político do Serviço Social, de forma a contribuir para a qualidade dos serviços prestados à população e possibilitar caminhos para construção de uma intervenção profissional qualificada.
Já é possível apontar qual é a situação atual dos serviços públicos nos quais as/os profissionais estão inseridas/os e de que forma isso está impactando na atuação delas/es?
Lótus – De forma preliminar, o que tem nos chamado a atenção é o impacto significativo nas atribuições e competências profissionais. Será sobre isso que iremos dialogar com a categoria no Seminário (no dia 27 de maio).
A partir desse projeto, quais são as possíveis estratégias de intervenção à categoria diante da atual conjuntura de destruição da proteção social pública?
Lótus – Acreditamos que será preciso realizarmos a etapa de diálogo com a categoria para apontarmos algumas tendências e possíveis intervenções. Estamos no começo do processo. Mas já podemos afirmar que é fundamental reforçarmos nossa especificidade e os fundamentos da nossa profissão.
De que forma esse projeto pode contribuir com ações de enfrentamento aos impactos provocados pela Covid-19?
Lótus – Na medida em que buscamos conhecer a realidade imposta aos/às profissionais pela Covid-19, no sentido de reafirmar os fundamentos e a perspectiva crítica do Projeto Ético Político, e ainda, buscando criar estratégias coletivas de formação, acreditamos que consolidamos nosso compromisso no fortalecimento da profissão no Estado.
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