CFESS defende Serviço Social crítico na Conferência Mundial | CRESS-17

CFESS defende Serviço Social crítico na Conferência Mundial

25/07/2012 as 3:51

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Estocolmo (Suécia) recebeu assistentes sociais de todo o mundo, inclusive brasileiros/as, para discutir o desenvolvimento social


Integrantes da FITS e conselheiras do CFESS (foto: Ivanete Boschetti)

 

Se o Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais aponta a agenda política do Serviço Social brasileiro a cada três anos, a Conferência Mundial de Serviço Social, bienal, dá o tom dos debates em nível internacional, ainda que o faça de maneira pouco crítica. Entretanto, o evento continua sendo uma excelente oportunidade para assistentes sociais, especialistas e estudantes socializarem experiências e debaterem sobre a intervenção na área, a formação profissional e as políticas sociais.

A edição de Estocolmo (Suécia), realizada entre os dias 8 e 12 de julho, reuniu mais de 2 mil participantes. Cento e noventa brasileiros/as participaram do evento, que recebeu mais de duzentos trabalhos do Brasil, entre pôsteres e comunicações orais. O CFESS também marcou presença com cinco representantes, sendo duas com despesas pagas pelo Conselho e três por conta própria.

“Foi um espaço importante para reforçarmos nosso posicionamento em defesa da profissão de maneira crítica, diferentemente do que a Federação Internacional de Trabalhadores/as Sociais (FITS) vem apontando nos últimos anos”, disse a presidente do CFESS, Sâmya Rodrigues Ramos.

As atividades do CFESS começaram nos dias 7 e 8 de julho, na Assembleia Geral da FITS, que teve participação de representantes das entidades de Serviço Social da África, Ásia e Pacífico, Europa, América do Norte e América Latina e Caribe, totalizando 38 países. No encontro, três importantes decisões: a primeira incluiu organização dos assistentes sociais de Porto Rico como entidade integrante da FITS, candidatura essa defendida pela grande maioria dos países, inclusive pelo Brasil, mas com posição contrária dos representantes dos Estados Unidos. “Este debate expressou concretamente o pensamento conservador presente na FITS. Ao mesmo tempo, a vitória na votação, depois da nossa intensa argumentação, foi histórica para as forças progressistas na entidade. Os países latino-americanos presentes vibraram, manifestação que não é comum nas assembleias da FITS”, relatou Esther.

O segundo destaque está relacionado à definição mundial de Serviço Social. Na Assembleia Geral de Hong Kong (China), em 2010, a representação dos diferentes países não estava convencida da necessidade de se rever a atual definição. Depois do relatório sobre o processo de discussão até a presente data, apresentado por Nicolai Paulsen, representante da Europa na FITS, a assembleia aprovou a necessidade de sua revisão. “Desde a Assembleia de Montreal, em 2000, a América Latina e o Brasil não se sentem representados pela definição aprovada pela FITS, por considerá-la conservadora e não atender às especificidades da região”, recordou Esther Lemos, da Comissão de Relações Internacionais do CFESS. Este debate foi, inclusive, tema central do Workshop realizado pelo CFESS em março deste, no Rio de Janeiro (RJ).

Outro ponto importante foi a apresentação de uma moção solicitando a inclusão da Língua Portuguesa como idioma oficial da FITS (como é o inglês, o francês e o espanhol), assinada pelo CFESS e pela Associação de Assistentes Sociais de Portugal e apoiada pela representação do Uruguai e Argentina. O documento não foi aprovado, mas a FITS acatou a solicitação da Assembleia de que seja realizado um estudo referente à viabilidade orçamentária para efetivação da proposta da moção.

Além disso, na Assembleia ocorreu a eleição das representações regionais da FITS. A atual presidente da região América Latina e Caribe, a argentina Laura Acotto, foi reeleita por mais dois anos. O uruguaio Rodolfo Martinez assumiu o posto de vogal, ocupado anteriormente por Ivanete Boschetti.
Assembleia da FITS (foto: Cristina Abreu)


Agenda da América Latina e Caribe

Com o objetivo de traçar estratégias comuns para a região, foi realizada, no dia 10/7, uma reunião com a representação dos países presentes: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Cuba, Nicarágua, Peru e Uruguai. A representação dos/as assistentes sociais da Espanha também participou, para estreitar a articulação política com a América Latina.

No encontro, definiu-se pela continuidade da estratégia coletiva de investir no debate da definição mundial de Serviço Social, incluindo este tema nos congressos organizados por cada país. Ficou acertado também a organização do 3º Encontro Latino-americano e Caribenho de Organizações Profissionais de Serviço Social, agendado no primeiro semestre de 2013, no Uruguai. Além disso, o grupo reforçou a importância do próximo encontro do Comitê Mercosul, que será realizado dia 23/9, após o  26º Congresso Nacional de Trabalho Social, na  cidade de San Miguel de Tucumán (Argentina). Como na última reunião do Comitê Mercosul foi deliberado sua ampliação, a reunião, durante a Conferência em Estocolmo, impulsionou a organização da categoria na região, especialmente por poder contar com colegas da Bolívia, Nicarágua e Cuba.

“Este encontro com os países da América Latina e Caribe foi central para o fortalecimento do processo que tem sido construído, além de dar legitimidade à nova gestão. Propiciou a troca de experiências, necessidades e a possibilidade de construir estratégias comuns diante do contexto de desregulamentação das profissões, precarização da formação profissional e perda de direitos trabalhistas, num contexto de governos considerados progressistas na região”, avaliou a conselheira do CFESS Esther Lemos.
Presidente do CFESS, Sâmya Ramos, ao lado da vogal da FITS na América Latina, Ivanete Boschetti (foto: Cristina Abreu)


Serviço Social radical

Pelas palavras do presidente do Conselho Internacional do Bem-estar Social, Christian Rollet, que, em sua fala de boas-vindas aos/às delegados/as, reproduzida no site do The Guardian, afirmou que “a conferência trabalharia em direção a uma meta de desenvolvimento de redução das desigualdades sociais e econômicas”, o tom dos debates seria bem diferente do que os/as assistentes sociais brasileiros/as estão acostumados/as, ou seja, baseados em um Projeto ético-político em defesa de uma sociedade emancipada.

Seria assim não fosse a participação de um movimento de assistentes sociais chamado Serviço Social Radical, articulado por profissionais do Reino Unido e que conta com a contribuição de outros países, além de estudantes e pessoas que “compartilham de uma visão crítica sobre o discurso dominante do Serviço Social”. O grupo teve presença marcante na Conferência, criticando a forma como a profissão vem sendo abordada em vários países do mundo. Segundo o movimento, o Serviço Social vem sendo cada vez mais caracterizado pela redução de recursos, mercantilização, privatização, individualização, controle e medicalização. “A centralidade do movimento é trazer para o centro do debate a crise do capital e como ela se expressa nas particularidades regionais e locais”, explicou Sâmya Ramos. 
Reunião do grupo de Serviço Social Radical (foto: Ivanete Boschetti)


O grupo se reuniu no dia 10/7, durante a Conferência. Representantes de aproximadamente 20 países participaram . E o Serviço Social brasileiro não ficou de fora deste espaço. Dos/as noventa participantes do encontro, trinta eram do Brasil. Durante a reunião, a presidente do CFESS relatou o processo de organização política e a direção anticapitalista das lutas desenvolvidas pelos/as assistentes sociais no Brasil. “Esse foi um momento marcante da Conferência, pois demonstrou que não estamos isolados/as na perspectiva crítica do Serviço Social no mundo. Temos aliados/as para construir um movimento de contraposição ao projeto societário capitalista e de fortalecimento de uma concepção crítica da profissão”, ressaltou Sâmya.

O movimento apresentou a proposta da publicação Critical and Radical Social Work, que discutirá a crise do capital, o impacto do neoliberalismo global sobre o bem-estar social; Serviço Social e movimentos sociais; violação de direitos; entre outros. Para saber mais sobre a publicação do Serviço Social Radical, os/as interessados/as devem acessar o site http://www.policypress.co.uk/journals.asp.


Brasileiros/as marcaram presença na Conferência e na reunião do grupo de Serviço Social Radical (foto: Ivanete Boschetti)


GT de definição mundial de Serviço Social

O Grupo de Trabalho que discute a definição mundial de Serviço Social também se reuniu durante a Conferência, no dia 11/7.  Foi a primeira reunião presencial com o novo grupo, que tem como desafio articular as duas entidades internacionais que coordenam o exercício e a formação profissionais, a FITS e a Associação Internacional de Ensino em Trabalho Social (AIETS).

Participaram da reunião cinco pessoas pela FITS, dentre elas o CFESS, representado por Sâmya Ramos e Esther Lemos, e sete pessoas pela AIETS, dentre elas Cláudia Mônica e Elaine Behring, que representaram o Brasil e a América Latina (ALAIETS). A coordenação do GT foi definida e passa a ser constituída por Nicolai Paulsen (Europa) e Sâmya (América Latina) pela FITS. Pela AIETS, Jan Agten (Europa) e Vishanthie  Sewlpau (África).

A reunião teve como pauta a organização do trabalho, a definição da estrutura do texto com respectivas considerações sobre o processo e a definição de cronograma. Ficou acertado que o novo GT terá até março de 2013 para apresentar a proposta de texto, que será encaminhado ao debate até o primeiro semestre de 2014, quando então deverá ser aprovada.

O CFESS distribuiu para os/as participantes do evento 3 mil exemplares da proposta de definição aprovada no Workshop realizado no Brasil e duzentos Códigos de Ética do/a Assistente Social na versão trilíngue (português, inglês e espanhol), possibilitando que assistentes sociais de todo o mundo pudessem conhecer mais sobre o Projeto ético-político do Serviço Social brasileiro.

Além disso, as conselheiras do CFESS apresentaram dois trabalhos. Um deles, da Comissão de Formação Profissional do CFESS, abordou “A incompatibilidade entre graduação à distância e Serviço Social”, com o objetivo denunciar a precarização da formação profissional resultante da política de ensino superior brasileira. Segundo a conselheira do CFESS Esther Lemos, o pouco tempo para apresentação não permitiu aprofundamento do debate, porém foi possível deixar o registro desta problemática vivenciada no país. “A reação dos/as participantes foi de espanto, quando viram a relação entre o número de matriculados EaD num número reduzido de instituições privadas, e o número de matriculados em cursos presenciais públicos e privados em muito mais instituições de ensino. Estes dados demonstram como a educação, particularmente em Serviço Social, tem sido negócio lucrativo no Brasil”, comentou.

A campanha “O amor fala todas as línguas”, pela livre orientação sexual e pela livre expressão da identidade de gênero, lançada em 2006 pelo Conjunto CFESS-CRESS, também foi tema de pôster apresentado pela Comissão de Ética e Direitos Humanos. Cartazes com a arte da campanha também foram distribuídos e muito bem recebidos pelos/as participantes.

Além disso, a imagem chamada “Marcha LGBT”, feita em 2011 pelo jornalista do CFESS Diogo Adjuto, durante a 2ª Marcha Nacional contra a Homofobia, em Brasília (DF), foi a vencedora do concurso de fotografia da FITS na categoria voto popular.

Imagem premiada no concurso de fotografia da FITS, categoria Voto popular (foto: Diogo Adjuto)

Melbourne, Austrália

A próxima Conferência Mundial de Serviço Social será em Melbourne, Austrália, entre os dias 9 e 12 de julho de 2014.

Veja a cobertura completa da Conferência Mundial de Serviço Social e leia as palestras dos/as conferencistas

Assista ao vídeo de encerramento da Conferência

 

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Fonte: CFESS

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