“É preciso fazer uma reforma agrária na mídia” | CRESS-17

“É preciso fazer uma reforma agrária na mídia”

09/09/2013 as 7:45

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Afirmação feita por palestrante marca 3º Seminário de Comunicação do Conjunto CFESS/CRESS, em Recife. Discussão sobre a disputa da hegemonia por meio da Comunicação e linguagem não discriminatória também foram destaques no evento

Arthur Willian do Coletivo Intervozes fala durante o seminário (Foto: Rodrigo Binotti)

“É preciso fazer uma reforma agrária na mídia”. Com essa afirmação, o jornalista e membro do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação, Arthur William Cardoso Santos, marcou o 3º Seminário de Comunicação do Conjunto CFESS/CRESS. O evento foi realizado nos dias 4 e 5 de setembro, em Recife, Pernambuco, antecedendo o 42º Encontro Nacional do Conjunto CFESS/CRESS.

Com o tema “Linguagem, política e redes sociais”, o seminário contou com a participação de mais de 70 pessoas, entre conselheiras/os, funcionárias/os e assessoras/es de Comunicação dos Conselhos. O CRESS-17 garantiu a participação no Seminário da analista em Serviço Social do Conselho, Luiza Rodrigues, e do assessor de Comunicação Rodrigo Binotti. Ambos integram a Comissão de Comunicação do CRESS-17. Clique aqui e confira imagens do seminário.

Reforma agrária na mídia

“Sete famílias controlam toda a comunicação do Brasil. Qual a legitimidade dessas famílias para conseguir essas concessões do Estado? Elas têm mais legitimidade que as centrais sindicais para ter uma TV, uma rádio?”, questionou Arthur William no início da sua palestra, dentro da mesa-redonda ‘Comunicação e Redes Sociais: o Serviço Social na disputa de hegemonia’.

Logo após o questionamento, o próprio jornalista respondeu: “deveria ser levado em conta a representatividade e o papel que o grupo quer desempenhar [para receber uma concessão de rádio ou TV]”.

Willian explicou que a concessão é dada pelo congresso, a partir de uma indicação e a própria renovação da concessão acontece automaticamente. “Muitas vezes essas canais desrespeitam os direitos humanos. Não prestam serviço de utilidade pública, alguns só de vendas. Criminalizam os movimentos sociais. A Comunicação no Brasil já tem 90 anos e temos esse problema da reforma agrária para resolver”, alertou.

Ele citou ainda o caso da personagem assistente social Humberlinda, interpretada pela atriz Katiuscia Canoro, no programa Zorra Total, da TV Globo. “Simplifica, menospreza, o papel do assistente social. A mídia tem um papel importante para sanar as dúvidas, mas também para reforçar ignorâncias”, sentenciou. Clique aqui e relembre o posicionamento do CFESS sobre o caso.

O mito da internet

O membro do Intervozes chamou a atenção para o mito de que a internet é livre e de que por isso todas as fichas devem ser apostadas nesse ‘veículo’. “Ela [a internet] também é dominada por grupos internacionais. A empresa Oi, que era nacional, mas foi vendida para a Portugal Telecom, e controla serviços de telefone, internet, TV. A Telefonica, que na Europa comprou a Tim e controla a Speed, a Vivo. E a Claro, que é dona da net, da Embratel. Usar a internet passa por essas três redes. Isso é problemático porque a acesso pode ser bloqueado. E essas redes podem atuar de determinadas maneiras dependendo do interesse dos governos. E ainda tem o Yahoo, o Google e outros”, alertou.

Para exemplificar, Willian citou o caso da China, onde o governo fez um acordo com o Google para só ‘aparecer’ o que o governo quer. “Essas empresas atuam por interesses comerciais juntamente aos governos”, afirmou.

Ele citou ainda o exemplo do caso da espionagem realizada pela agência de inteligência dos Estados Unidos sobre o governo brasileiro. “Não é espião infiltrado, são dados colhidos por essas empresas que prestam esse serviço e repassam aos governos. Até a presidenta teve a sua comunicação invadida, ou melhor, acessada, porque os termos de serviço estabelecem isso. Não há privacidade”, criticou o jornalista.

Para mudar esse cenário de concentração midiática, Arthur Willian frisou a necessidade de mudanças na lei que regula as comunicações no Brasil, que é de 1962. Ele destacou o projeto de lei de iniciativa popular que está recolhendo assinaturas para a construção de um marco regulatório das comunicações, como forma de quebrar a concentração da mídia no Brasil. Clique aqui e saiba mais sobre o projeto e os locais onde estão sendo recolhidas assinaturas.

Disputa da hegemonia

Dando continuidade à mesa-redonda, a presidente do CFESS, Sâmya Ramos, lembrou um pouco da história da construção da política nacional de comunicação do Conjunto CFESS/CRESS até chegar no 3º Seminário Nacional.

“Esse avanço nas discussões sobre a comunicação é importante na luta pela efetivação do projeto ético-político da categoria e na promoção dos direitos humanos”, avaliou a presidente. Confira o CFESS Manifesta que aborda as temáticas pautadas no seminário.

Para que serve a linguagem?

A língua é ou não é preconceituosa e machista? É a forma como a sociedade usa a língua que a faz ser o que ela é? E como utilizá-la para romper desigualdades?

Esses questionamentos marcaram a tarde do primeiro dia do Seminário na discussão sobre ‘Política, Linguagem não discriminatória e Serviço Social’.

Para a linguista e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Jonê Carla Baião as pessoas são linguagem, se apresentam como linguagem. “É o que a gente diz que vai abrindo e fechando portas. A língua portuguesa é preconceituosa porque os homens e mulheres são preconceituosos”, ponderou.

Jonê: “A língua portuguesa é preconceituosa porque os homens e mulheres são preconceituosos” (Foto: Rodrigo Binotti)

Mas, segundo a professora, ninguém pode mudar a língua por vontade própria. “É tarefa de convencimento diário. Só o uso consagrará as formas. E os falantes alteram a língua para o seu benefício. A gente quer uma língua que seja democrática porque a gente quer uma sociedade que seja democrática”, concluiu Jonê.

Já para a jornalista e historiadora Sandra de Souza Machado a linguagem sofre influências do eurocentrismo. “A Europa é o centro do mundo. Vivemos em sociedades eurocêntricas, nas quais homens, brancos, anglo-saxônicos, de religião cristã e protestantes se acham predestinados. Nas quais a mulher é o sexo e o homem é a humanidade”, apontou.

A assistente social e professora da Universidade de Brasília (UnB) Kênia Figueiredo fechou as palestras da tarde destacando a abertura do espaço para a discussão sobre a linguagem, como instrumento de trabalho das/os assistentes sociais.

“Tudo que foi falado hoje tem rebatimento na nossa profissão, como atuamos, e nas pessoas que são usuários. Precisamos entender que uma coisa é conversarmos entre nós, outra coisa é conversar com a mídia, com a sociedade e com os usuários”, concluiu Kênia.

Pesquisa e conversa

No segundo e último dia do 3º Seminário de Comunicação foi apresentada os resultados da pesquisa virtual “Perfil da Comunicação do Conjunto CFESS-CRESS”, realizada pelo CFESS.

Entre os destaques está o crescimento do número de CRESS que dispõe de algum tipo de assessoria de Comunicação, juntamente ao aumento do número de veículos de comunicação desses Conselhos com as suas respectivas bases. Em breve o resultado completo da pesquisa será divulgado pelo CFESS.

Assessoras e assessores dos conselhos regionais e do federal reunidos no seminário

Após a apresentação da pesquisa, conselheiras/os, funcionárias/os e assessoras/es de Comunicação dos Conselhos que participavam do 3º Seminário de Comunicação puderam expor trabalhos na área que são realizados, socializar experiências, tirar dúvidas e apontar novos desafios para o Conjunto no que tange à Comunicação.

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