No dia 25 de novembro de 1960, as irmãs Mirabal, conhecidas como “Las Mariposas”, foram torturadas e assassinadas, na República Dominicana, no período do regime ditatorial de Rafael Trujillo. Em homenagem a elas, que lutaram contra a ditadura e pagaram com a própria vida, instituiu-se, durante o 1º Encontro Feminista Latino-americano e do Caribe, o Dia Internacional de Combate a Violência Contra a Mulher ou da Não-violência contra a mulher, no qual mulheres vão às ruas declarar que não aceitaremos nenhuma a menos.
De lá para cá, tivemos avanços históricos, mas ainda em 2018, temos muito a conquistar e as mulheres continuam morrendo. Neste ano, tivemos o assassinato de Marielle Franco, mulher negra, lésbica, da favela da Maré e vereadora eleita pelo município do Rio de Janeiro. Agora em novembro, são oito meses sem resposta, após esse crime brutal. Em um de seus pronunciamentos Marielle bradava “não calarão a voz de uma mulher eleita”.
Voz. Vozes.
Frente a tantas possibilidades de retrocessos na atual conjuntura, nós crescemos, quantitativamente,no Poder Legislativo.Entretanto, esse acréscimo tem disparidades regionais e em alguns estados nem houve candidatura de mulheres para o Senado.Obviamente que não temos garantias que todas as mulheres eleitas possuam propostas progressistas que impactarão positivamente em nossas vidas. Tal identidade com a pauta do movimento feminista e com a luta orgânica das mulheres não se dá mecanicamente, isso seria essencializar nós mulheres, o que repudiamos.
Porém, o aumento de mulheres em espaços de poder subverte a divisão sexual desses espaços, tendo em vista que locais considerados de prestígio e liderança tradicionalmente são ocupados por homens brancos. As eleições nos Estados Unidos, retrato do poder imperialista, também obtiveram marcos históricos no Congresso com aumento exponencial de mulheres. A presidência dos EUA, desde a posse, foi marcada por protestos femininos e feministas. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.
Somos metade da população, por isso, precisamos fortalecer a presença de mulheres nos diversos espaços representativos, seja nas instituições, seja nos espaços mistos organizados, autoorganizados ou na esfera de controle social. Não como fim em si mesmo, mas com a ideia de que frente a essa realidade de bárbarie contra nossas vidas, precisamos ter vozes para denunciar e propor alterações sejam elas legais-normativas, sejam elas políticas e históricas, o que, na realidade, não se dão de forma apartada. Vozes que sejam diversas e potentes na luta contra as desigualdades sociais e as opressões contra negros e negras, LGBTS e contra a população pauperizada que se apresentam enraizadas em nosso Brasil com dimensões continentais.
A luta no Espírito Santo
A realidade capixaba é um desafio para as mulheres, onde sempre comparecemos nos primeiros postos no ranking de mortes oscilando entre 1º e 5º lugar.Liderando o assassinato de mulheres negras. Humanamente, nem deveria existir rankeamento de mortes. Elas simplesmente não deveriam acontecer da forma brutal que não aguarda o tempo histórico das vidas naturalmente se esvaírem. Empilhamos corpos que tem nome, sexo, identidade, orientação sexual, endereço, classe social. Choramos as nossas que se foram, citamos em nossas manifestações seus nomes seguidos da palavra, presente!
Os índices de violência contra nossa existência são graves no estado e no Brasil. Isso demonstra o caráter estrutural do patriarcado que nos violenta tanto na esfera pública (como as situação de estupro, assédio moral e sexual nas ruas e no trabalho) quanto na esfera privada (aqui ganham corpo a violência doméstica e familiar tipificadas na Lei Maria da Penha), demonstrando como elas estão dialeticamente articuladas.
Ao falarmos de enfrentamento à violência, também podemos ultrapassar a dimensão da violação ao corpo, considerando essa, que pode ser vista de forma mais individualizada, com a violenta desigualdade estrutural que nos explora e oprime em relações desiguais e precarizadas de trabalho. Ainda, no machismo que toma as cenas cotidianas da vida nas comunidades, no campo e na cidade, e nas telas não-ficcionais da televisão.
Dessa forma, nessa data simbólica de luta reafirmamos: Nenhum passo para trás! Não nos calaremos! É pela vida das mulheres!
*Emilly Marques Tenorio é assistente social, conselheira do CRESS-17ª Região e militante do Fórum de Mulheres do Espírito Santo. Autora do livro “Lei Maria da Penha e Medidas de proteção: entre a polícia e as políticas”
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