Cemitério de jovens | CRESS-17

Cemitério de jovens

11/05/2011 as 5:42

Compartilhe:

Leia o artigo sobre a violência contra a juventude capixaba, escrito pelo professor da Ufes e especiaIista em políticas públicas, Roberto Garcia Simões

São 9.081 cruzes de Joões, Marthas, Silvas que tombaram no Espírito Santo (ES), entre 1998 e 2008, no desabrochar de suas vidas – 15 a 24 anos: homicídios (6.979) e acidentes de trânsito (2.102).

Esse cemitério de jovens sepulta o Estado nas primeiras posições do “Mapa da Violência 2011” (Ministério da Justiça e Instituto Sangari). Que desenvolvimento é esse? É desolador constatar a vitória das mortes sobre vidas tão novas.

Como pai, compartilho a solidariedade fraterna com as famílias que sofrem a dor de enterrarem filhos na flor da idade. Como cidadão, reafirmo a indignação com o desequilíbrio entre a potência e a velocidade das mortes pelas drogas e trânsito e a tibieza associada ao atraso das ações para vivificar a juventude: educação e cultura, esporte, justiça, inclusão digital, segurança.

E, como professor, busco superar a banalização dos números decorrente da repetição silenciosa, acomodada, desse genocídio estadual de jovens de 15 a 24 anos. No obituário juvenil, é intolerável a posição do ES, pois assassina o “futuro” tão usado nos discursos.

a) É o único Estado onde a principal causa de óbitos juvenis em 2008, nas idades separadas entre 15 e 24 anos, foi homicídios; em Alagoas (AL), essa situação bárbara não aconteceu na idade de 15 anos. Isso não se verificou em nenhum outro Estado do Sudeste para as 10 idades consideradas. Drogas e tiros aterrorizam ainda mais juventude no ES.

b) A segunda maior taxa estadual de homicídios juvenil – 120 mortes a cada 100 mil jovens – ocorreu no ES, posicionado entre as de AL (125,3) e Pernambuco (PE) (106,1). A de Santa Catarina (SC), que dobrou entre 1998 e 2008, é quase cinco vezes menor (25,4). Já a do ES continuou elevada desde 1998 – e superou a de El Salvador, a maior do mundo: 105,6. Covas e caixões enterram também políticas vigentes para a juventude.

c) Na Grande Vitória há mais do que uma guerra civil de “gangues” de proporções cadavéricas. Em 2008, esta região metropolitana teve a maior taxa de homicídios de jovens em comparação com as nove maiores do Brasil: 188,4 por 100 mil jovens. A taxa da região metropolitana de São Paulo, no mesmo ano e faixa etária, é seis vezes menor. É a selvageria urbana reinando na Grande Vitória.

d) Em mais um féretro massacrante, a encantadora Vitória natural ficou, em 2008, entre as capitais, com a terceira maior taxa de homicídios de jovens: 181,9; acima estavam Maceió e Recife. Para que se possa ter uma ideia desse assombro, a Organização Mundial de Saúde considera que o crime se torna uma “epidemia” quando ultrapassa a marca de “10 casos por 100 mil indivíduos”. A maior epidemia da Grande Vitória, e do Brasil, continua sem ser tratada enquanto tal, sem “remédios” compatíveis.

O velório prossegue nos acidentes de trânsito. Nessa corrida mortal, eis as colocações na respectiva taxa por 100 mil habitantes, em 2008: a) ES, quinto lugar; Grande Vitória, segundo lugar entre nove regiões metropolitanas, e Vitória, a capital, em primeiro lugar. A impunidade continua vida nas ruas.

Passivamente, há uma década (1998-2008) a sociedade no ES assiste a 21 enterros semanais de jovens mortos por drogas-tiros e no trânsito. Triste, penso se essa mesma sociedade é capaz de gerar significados e espaços que propiciem a vida jovem.

Roberto Garcia Simões é professor da Ufes e especiaIista em políticas públicas.
E-mail: robertog@npd.ufes.br

*Fonte: A Gazeta de 09 de maio de 2011.

Imprimir

Compartilhe:



endereço

Rua Pedro Palácios, nº 60, Edifício João XXIII
11º andar, salas 1103 à 1106. Centro, Vitória/ES
CEP 29015-160

Acessem:

Copyright 2017 • todos os direitos reservados ao CRESS 17 - Conselho Regional de Serviço Social 17ª Região