Entrevista com Sabrina Lúcia, presidenta do Cress/ES, sobre o planejamento e os desafios para a atual gestão | CRESS-17

Entrevista com Sabrina Lúcia, presidenta do Cress/ES, sobre o planejamento e os desafios para a atual gestão

24/08/2023 as 2:00

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A chapa eleita “Quem escolhe a luta não recusa a travessia” assumiu a gestão do CRESS/ES no último mês de maio e, de lá para cá, algumas ações já começaram a ser realizadas. As reuniões das comissões temáticas foram retomadas, foi realizada a primeira Assembleia Geral Ordinária de 2023, as conselheiras e os/as trabalhadores/as já se preparam para dois encontros descentralizados (Regional e Nacional) e já há previsão de retomar o Curso Ética em Movimento a partir de agosto.

A assistente social e presidenta do Cress/ES, Sabrina Lúcia, respondeu a algumas questões sobre a gestão, apresentando parte do planejamento atual e indicando os desafios que devem ser apresentados nos próximos três anos de trabalho. Sabrina Lúcia é formada em Serviço Social pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), sendo mestranda em Política Social pela mesma instituição. Como assistente social, já atuou na Prefeitura de Vitória, na área da Juventude; e posteriormente ingressou por meio de concurso público na Prefeitura de Guarapari, atuando na área de Saúde Mental. Desde 2013 é servidora efetiva da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), trabalhando atualmente no Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo.

Esta é a terceira gestão do Cress/ES da qual Sabrina Lúcia participa. Também esteve presente na gestão “Não vou me adaptar”, entre 2014 e 2017; e na gestão “Tempos de Resistir”, entre 2017 e 2020, quando foi vice-presidenta do conselho. “Ainda na graduação, e no momento da inscrição junto ao Conselho, eu já tinha noção da função da entidade na defesa para a garantia de uma profissão regulamentada, mas a dinâmica do Cress e a minha vinculação efetiva com ele só ficou mais nítida quando, de fato, ocupei cargos na gestão. E eu me encantei”, afirma a atual presidenta do Cress/ES, para o período de 2023 a 2026.

Quais são as características de quem compõe a atual gestão do CRESS/ES?

A atual gestão “Quem escolhe a luta não recusa a travessia”, da qual faço parte na condição de presidenta, tem na sua composição majoritariamente assistentes sociais mulheres, com uma diversidade étnica e etária, que atuam diretamente em espaços sócio-ocupacionais que vão desde as políticas públicas no campo da seguridade social, sociojurídico ao acadêmico. Também possuem uma trajetória de militância em movimentos sociais, partidos, associações, fóruns, entre outros.

É um coletivo que foi se constituindo para que sua composição pudesse integrar assistentes sociais da continuidade, ou seja, aquelas que estavam compondo a gestão “Atentas e Fortes”, 2020-2023, e desejavam continuar nessa jornada; e identificando profissionais que se vinculavam ao Cress de alguma forma, seja pelas comissões e demais atividades promovidas pelo Conselho, seja pensando em assistentes sociais que já haviam participado de direções em outros momentos, como foi o meu caso. 

Quais é o planejamento da atual gestão do CRESS/ES para os próximos três anos?

Primeiramente, preciso dizer que assumir a gestão do Cress é um desafio enorme, que exige uma responsabilidade ética, política e administrativa e que deve se dar de maneira coletiva, por isso é importante que as conselheiras estejam alinhadas na mesma perspectiva de defesa intransigente da profissão, subsidiadas pelas normativas que dão segurança ao nosso exercício profissional como assistentes sociais e gestão.

Historicamente o Conjunto Cfess-Cress vem trabalhando com gestões de continuidade. Isso posto, entendemos que é preciso respeitar o legado existente na entidade, acumulado ao longo desses 40 anos, mas buscando constantemente situar o nosso planejamento com o tempo histórico e os desafios inerentes a esta conjuntura, que incide diretamente sobre a formação e o trabalho de assistentes sociais e da classe trabalhadora da qual fazemos parte. 

A gestão anterior à nossa teve um esforço enorme em repensar a dinâmica do trabalho do Conselho, considerando o cenário de crise sanitária imposto pela Pandemia da Covid-19. Isso exigiu uma série de modificações na gestão dos processos no Cress e, agora, na transição, nós tivemos a oportunidade de nos aproximarmos dos desafios e das possibilidades postas a este novo triênio, que vão desde a dimensão interna do Conselho (espaço físico, processos de trabalho, entre outros) até a relação direta com as assistentes sociais capixabas por meio das ações de orientação e fiscalização, eventos formativos, mobilizações políticas e tudo que envolve a defesa radical das nossas atribuições privativas e competências profissionais previstas no Código de Ética e na nossa Lei de Regulamentação.

E a relação do conselho com a categoria? Como a atual gestão está se planejando para essa atuação?

Sobre o planejamento para o triênio 2023-2026, nós estamos em fase de estudo e construção das deliberações que vão nortear as estratégias e ações do Cress. Esse movimento é realizado pelo Conjunto como um todo, que se organiza por meio de encontros descentralizados das regiões do Brasil e, depois, nacionalmente, para deliberamos coletivamente por uma agenda de trabalho que contemple a diversidade do nosso país e da categoria, mas também assegure a autonomia de cada Cress diante das particularidades de cada Estado.

Quando a gente assume a gestão temos o Plano de Metas e a proposta orçamentária elaborada pela gestão anterior, e nossas ações durante este ano estão contempladas nesses documentos. A partir deles vamos definindo nossas prioridades, que vão incidir sobre o planejamento para o ano de 2024. Esse movimento de pensar o percurso de continuidade do trabalho é feito em conjunto com os/as trabalhadores/as do Cress/ES.

Já realizamos a nossa assembleia no último dia 08 de julho, temos previsto para iniciar no mês de agosto o Curso Ética em Movimento, e já iniciamos no mês de julho a retomada das reuniões das comissões temáticas e que tem participação direta da base. Além disso, estamos mantendo continuamente as ações precípuas da entidade, as quais se vinculam diretamente às Comissões de Orientação e Fiscalização e de Registro.

Serão três anos de gestão. Já é possível identificar quais são os principais desafios que deverão enfrentar? Ou, ao menos, as demandas mais importantes para a categoria?

Sim, é possível identificar! Sempre temos desafios a serem superados e, enquanto gestão, vamos buscar o melhor alinhamento com a categoria e com os/as trabalhadores/as do Cress para definir as prioridades no que diz respeito ao nosso planejamento.

Assumimos o Conselho com demandas que têm relação com a gestão do trabalho interno; condições éticas e técnicas para o exercício profissional da equipe que atua na entidade; observação e avaliação dos novos modelos e fluxos digitais surgidos no período da pandemia e como isso tem impactado no trabalho cotidianamente; além de qualificar o atendimento à categoria, no que diz respeito às questões relacionadas ao registro/inscrição; visitas de fiscalização; negociação de anuidades; emissão de certidões. Tudo isso já faz parte do universo de trabalho do Cress, mas como somos uma nova gestão é preciso uma apropriação mais sólida para encaminharmos aquilo que compreendermos ser prioritário.

No campo da defesa do exercício profissional, nosso objetivo é manter ações e diálogo permanente com a categoria e com as escolas de Serviço Social, no intuito de garantirmos uma formação e um trabalho de qualidade na direção do Projeto Ético Político da profissão, compreendendo as expressões da questão social que estão postas ao trabalho das assistentes sociais capixabas e como as requisições institucionais chegam e são executadas pela categoria, de modo a refletir quais têm sido as demandas presentes no cotidiano de trabalho que se relacionam diretamente com as atribuições privativas e as competências profissionais. Com isso é importante localizar o debate dos Fundamentos do Serviço Social, na relação com nosso Código de Ética e com a Lei de Regulamentação, visando a defesa radical dos princípios norteadores da nossa profissão. 

E como esta gestão vai trabalhar a relação da profissão, do Serviço Social, com a conjuntura em que nos encontramos?

Como eu mencionei anteriormente, o Serviço Social lida com as expressões da questão social, ou seja, a relação que deriva do capital e do trabalho, em como as relações sociais são forjadas neste sistema capitalista, nos marcos do neoliberalismo, conservadorismo, racismo, machismo, homofobia, capacitismo e etarismo.

Nessa realidade, a categoria profissional é convocada a atuar em uma dinâmica que exige a compreensão na sua totalidade, para que consiga desenvolver um processo de trabalho que esteja vinculado a um novo modelo de sociabilidade que nos permita romper com as desigualdades impostas pelo capital.

Obviamente não se trata de uma tarefa endógena ao Serviço Social, é preciso pensar coletivamente nos nossos espaços de trabalho alianças com outras categorias profissionais e, também, com a sociedade civil organizada (movimentos sociais, partidos, associações, fóruns). E, a partir daí, construir uma agenda de lutas que possam incidir efetivamente no campo dos direitos sociais e humanos.

O CRESS/ES celebra 40 anos em 2023. O que representa completar quatro décadas? Qual a importância e o que significa para o/a trabalhador/a?

O ano de 2023 traz para o Serviço Social brasileiro vários marcos importantes e significativos da profissão. Celebramos os 30 anos do Código de Ética e da nossa Lei de Regulamentação, e, no nosso caso, o Cress/ES ainda comemora 40 anos de fundação. E qual a importância disso?

Ter uma profissão regulamentada, um conselho forte e com vinculação orgânica com a sua categoria são fundamentais na defesa do Serviço Social. E ainda compreendendo o Conjunto Cfess/Cress como uma força ético-política na defesa e organização da nossa profissão, com uma agenda de trabalho e luta alinhada com os princípios fundamentais do nosso Código, subsidiada pelas resoluções e normativas que possibilitam exercer a profissão para atender com qualidade a população usuária de forma ética e técnica, por meio de políticas públicas com acesso e garantia aos direitos sociais e humanos.

Enfim, em nome da gestão, quero agradecer os votos que recebemos na eleição, e aqui dizer do nosso compromisso com o Serviço Social capixaba na defesa do exercício profissional, com incidências firmes diante dos atravessamentos que as profissionais vivenciam em seus espaços de trabalho. Sabemos que não faremos essa gestão sozinhos/as, e é preciso que a categoria profissional tenha envolvimento direto com as pautas e as defesas do Serviço Social brasileiro, na sua direção ética-política e crítica, participando das comissões, acionando o Cress quando necessário, além de se manter em constante formação, acessando a produção teórica produzida pelo Conjunto. Vamos rumo a celebração de mais 40 anos!

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