
Vivemos uma conjuntura marcada por profundas alterações no campo da Política de Drogas. Essas alterações vão ao encontro das mudanças da Política de Saúde Mental, nos últimos dois anos, e apresentam graves retrocessos na orientação do cuidado em saúde pautado nos direitos humanos. Neste dia 26 de junho, Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas, é fundamental reafirmar o compromisso ético-político do Serviço Social com a plena efetivação da Reforma Psiquiátrica e pela defesa e fortalecimento da Política Nacional de Redução de Danos como possibilidade de cuidado e promoção da saúde.
As recentes alterações na Política de Drogas descaracterizam a Rede de Atenção Psicossocial, fortalecendo os investimentos em leitos psiquiátricos e no tratamento em Comunidades Terapêuticas. Prioriza-se o repasse de recursos para este modelo de tratamento em detrimento do sucateamento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e do ínfimo número de leitos em hospitais gerais para atendimento das crises mais agudas de usuários/as de psicoativos.
As alterações na Política de Drogas excluem, ainda, as referências da Redução de Danos como orientação central de cuidado e coloca a promoção da abstinência como foco. Somado a isso, autoriza a internação sem consentimento do usuário, o que representa interesses não vinculados a saúde pública que viola o princípio do cuidado em liberdade e alimenta uma “indústria da internação”. Essas medidas aprofundam o caráter proibicionista da legislação brasileira sobre drogas e fortalece a manutenção de uma hegemonia de “guerra às drogas”. Relaciona-se, assim, a ideologia proibicionista e a guerras às drogas com a criminalização da pobreza e a militarização da vida.
É necessário fazer mediações históricas e complexas nesse campo, em destaque a relação do proibicionismo com o encarceramento e o uso de todo um aparato jurídico-normativo para validar a repressão e a coerção, legitimado pelo Estado. Vale destacar que o sistema de justiça criminal brasileiro é seletivo e se vale de condutas discriminatórias que são chanceladas pelo racismo institucional. De acordo com dados do Infopen, vivemos um encarceramento em massa com o aumento da população carcerária em 701%, nos últimos 20 anos. Esses números tendem a aumentar com a promulgação da nova Lei que amplia a pena mínima para quem atue no comando de organização criminosa. E reconhecidamente sabemos quais são esses sujeitos passiveis de serem criminalizados, no Brasil.
Chamamos a atenção para a incitação de uma política de encarceramento dos usuários, principalmente dos jovens negros da periferia, que com a nova lei estão submetidos a uma avaliação “das circunstâncias sociais e pessoais e a conduta de antecedentes” para diferenciar usuário e traficante. Paralelo a aprovação desta Lei, o Congresso discute o ‘Pacote Anticrime’ fortemente criticado por propor “uma banalização da letalidade policial e uma transformação da morte num instrumento de segurança pública”(1). O que acompanhamos é a continuidade de um projeto de extermínio e encarceramento da população negra e pobre do país. E que os corpos negros são geridos por políticas estatais que historicamente prevêem a sua contenção: física e social.
É diante deste cenário de graves retrocessos que nós, assistentes sociais, devemos ficar atentas/os e fortes para enfrentar os desafios do exercício profissional no combate ao racismo institucional e na luta contra o preconceito ao uso das substâncias psicoativas, com ênfase no antiproibicionismo, na crítica à guerra às drogas e na política de redução de danos. Reafirmamos o compromisso com fortalecimento da luta pela efetivação da reforma psiquiátrica e dos mecanismos de atenção aos usuários dos serviços de saúde mental, álcool e outras drogas, em articulação com o controle social e os movimentos sociais, na perspectiva de ampliação e consolidação de uma rede substitutiva capaz de sustentar uma ação integral e antimanicomial.
* Autoras: Pollyana Tereza Ramos Pazolini, assistente social, conselheira, presidente do CRESS-ES; Sabrina Moraes Nascimento, assistente social, conselheira, coordenadora da Comissão de Ética e Direitos Humanos.
Fonte:
(1) ‘Pacote anticrime transforma morte em instrumento de segurança pública’.
Links importantes:
Série assistente social no combate ao preconceito: o estigma do uso de drogas.
Artigo – O massacre negro brasileiro na guerra às drogas
III Levanta mento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira
Atenção, categoria! O CRESS-ES comunica o retorno gradual dos Serviços Online! Em maio de 2025, os sistemas informatizados dos Conselhos Regionais e Federal ficaram inoperantes, afetando o atendimento à base em quase todo o Brasil, inclusive no Espírito Santo. Desde então, as solicitações da categoria são atendidas pelos canais oficiais de e-mail do CRESS-ES. Após […]
14/10/2025 as 11:27
Informamos que o CRESS-ES está com instabilidades em suas linhas telefônicas. Dessa forma, o atendimento pelo telefone fixo está suspenso. Profissionais podem contatar o Conselho comparecendo presencialmente à sede, em Vitória, ou por e-mail. E-mails do CRESS-ES Demandas gerais para o Conselho – cress@cress-es.org.br. Boletos, Negociação e assuntos correlatos – cobranca@cress-es.org.br. Registro, Cancelamento, Reinscrição e assuntos correlatos – registro@cress-es.org.br. Orientação […]
03/04/2025 as 2:22
A formação profissional não se encerra com a graduação. É por meio do estudo constante e da prática cotidiana que assistentes sociais constroem e aprimoram sua atuação e qualificação no exercício da profissão. Mas o ponto de partida começa nas Universidades, durante o processo acadêmico de estudantes, que une a base teórica à prática de […]
14/11/2025 as 1:09
CRESS-ES em Cachoeiro de Itapemirim: o NUCRESS da Região Sul está chegando! INSCREVA-SE AQUI. Os Núcleos Descentralizados são estratégias históricas do Conjunto CFESS-CRESS, com o objetivo de estimular a organização da categoria, a descentralização das demandas e a interiorização das ações do Conselho. Isso possibilita maior articulação e envolvimento de profissionais do interior do Estado com […]
10/11/2025 as 11:47
As instituições da nossa categoria profissional no Espírito Santo convidam para o Fórum Estadual de Estágio, com o tema central: “Trabalho, Conservadorismo e os impactos no estágio em Serviço Social: construindo resistências”. O evento acontece no dia 11 de novembro, das 8h30 às 16h30, no Salão Rosa do CCJE/UFES. A atividade é resultado da histórica […]
29/10/2025 as 11:40
O CFESS publicou, nesta semana, a Convocação das Eleições CFESS-CRESS 2026-2029, documento que apresenta o edital e calendário eleitoral completo e marca o início oficial do processo que elegerá democraticamente as próximas gestões dos Conselhos Regionais e do Conselho Federal de Serviço Social para o triênio 2026-2029. Clique e conheça a seção especial ‘Eleições’ no site do […]
29/10/2025 as 11:32