Nossa escolha é a resistência: “Sou AS, Trabalhadora da Política de Assistência Social e defendo o nosso projeto de profissão” | CRESS-17

Nossa escolha é a resistência: “Sou AS, Trabalhadora da Política de Assistência Social e defendo o nosso projeto de profissão”

11/05/2018 as 1:44

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Dando continuidade à série de entrevistas do mês de comemoração do dia do/a assistente social, com o objetivo de promover a valorização e visibilidade do/a profissional nos diferentes espaços de atuação e/ou militância, convidamos a assistente social Mariani Souza Silva, nascida e residente em Cachoeiro de Itapemirim. Mariani é formada há 10 anos e, atualmente, exerce o cargo de Gerente de Proteção Social Básica do município onde vive.

CRESS-17:  Quais são as demandas, atribuições neste cargo?
Gerencio a operacionalização da Política Municipal de Assistência Social na área da Proteção Social Básica, prestando assessoria técnica, auxiliando na organização da rede de serviços socioassistenciais, coletando e analisando dados para subsidiar o planejamento de ações de programas, projetos, serviços e benefícios. Cumpro e faço cumprir os planos e programas de trabalho aprovados pela Subsecretaria de Assistência Social do município em parceria com as instâncias de Controle Social com vistas aos cumprimentos dos objetivos propostos em consonância com a Política Nacional de Assistência Social.

CRESS-17: Diante dos diversos desafios cotidianos, quais vocês destacaria?
Tendo em vista a atual situação econômica, social e política que o país subsiste, tem-se a imprescindibilidade de realizar o trabalho com as famílias, atuando para o acesso de direitos sociais. No presente cenário de esvaziamento do Estado e fragilização das Políticas Públicas, há uma busca constante de promover a Política de Assistência Social, assegurando que não haja “Nenhum Direito a Menos”.

Afirmo então que se trata de uma luta coletiva, onde a transformação não se faz de forma isolada, mesmo atuando em um cargo de gestão, a essência profissional me chama para um compromisso com a classe trabalhadora e desta forma desde 2016 buscamos a implantação do Fórum Municipal de Trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

Com o apoio do Fórum Estadual (FETSUAS), por vezes avocamos os/as trabalhadores/as para tomar espaço neste segmento social de modo a garantir a luta da classe trabalhadora, como também consolidar o SUAS.
Imersa a uma realidade ora de supressão, ora de proveito, vejo meus desafios enquanto diários estando no processo de gerir a Política de Assistência Social de modo a garantir os direitos dos/das usuários/as; fortalecendo-me enquanto trabalhadora, no intento de somar no propósito de alcançar uma sociedade mais justa.

CRESS-17: Na nossa trajetória profissional, temos muitos desafios nessa conjuntura, porém também conquistas. Conte para nós uma experiência que considere exitosa:
Ao longo de meu percurso profissional acredito ter logrado êxito em determinadas ações. O trabalho social com famílias leva a um conhecimento de diversos serviços públicos, desenvolvendo uma rede de proteção social.

Recentemente em uma atuação conjunta a Coordenação de Vigilância Socioassistencial do município, realizamos um estudo sistemático sobre Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, neste processo garantimos a implantação da equipe técnica de referência direcionada a sua execução, seguindo o caráter preconizado pela política, trabalhando nos grupos as potencialidades dos indivíduos e suas famílias, respeitando sua faixa-etária, seu convívio familiar e comunitário.

Por fim, a metodologia de avaliação conjunta, entre gestão, equipe e usuários/as, converteu-se em respostas positivas quanto à prática adotada, trazendo a importância de um planejamento para que as ações sejam voltadas a um atendimento de qualidade.

CRESS-17: Você utiliza normativas e publicações do conjunto CFESS-CRESS em sua atuação? Se sim, Quais e em qual situação?
Constantemente busco as orientações do CFESS-CRESS para qualificar a prática profissional, fazendo leitura das publicações, de modo a orientar, socializar e permitir um diálogo.

Em mãos Resolução 533/ 2008, assim como a cartilha “Meia Formação não garante um direito”, que tratam de estágio supervisionado, tendo em vista que os equipamentos da Política de Assistência Social são campos de estágio, sendo necessário o acesso a estas orientações, a fim de contribuir à formação acadêmica e priorizar o que é previsto.
A cartilha do CFESS “Parâmetros para atuação de Assistentes Sociais na Política de Assistência Social” também é uma leitura indispensável, considerando o recorte das legislações que fundamentam a política estabelecendo um paralelo com o exercício profissional.

Recentemente o conteúdo do termo de orientação da COFI-ES, dizendo do caráter policialesco que vem sendo atribuindo à profissão, refleti com outras profissionais quanto às práticas adotadas em nosso cotidiano, revelando a necessidade de um debate crítico, para que não haja retrocessos na garantia de direitos.

CRESS-17: Participa de atividades e eventos do CRESS?
O Núcleo Descentralizado (NUCRESS) aproxima a categoria frente aos debates do Conselho, desta forma participo das reuniões descentralizadas, e atualmente integro a Coordenação no Sul do Estado.

Ademais, havendo possibilidade me faço presente em encontros, por acreditar na força de uma categoria unida e bem articulada.

CRESS-17: Como o desmonte das políticas públicas interfere no trabalho do/a assistente social na assistência social?
O contexto exige resistência, não deixando com que se rompa todo o processo de luta para construção da Política de Assistência Social. Nota-se que há necessidade de ampliação dos serviços, com competência, sem que se perca a essência da Política de Assistência Social. Ao analisarmos as relações trabalhistas cada vez mais precarizadas, o avanço de propostas conservadoras e paternalistas confirmam os ataques sofridos às Políticas Públicas e estes desmontes nos atingem diretamente.

CRESS-17: Em sua opinião como o serviço social contribui no campo da gestão?
Fazendo cumprir o disposto em nosso Código de Ética, que se constitui enquanto direito do/a Assistente Social a participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais. Assim vejo como um compromisso, para com a população usuária e profissional, fazendo valer o projeto ético-político, buscando contribuir de forma técnica, teórica e metodológica para a projeção de uma sociedade mais justa.

CRESS-17: Enquanto mulher, negra, quais principais obstáculos e manifestações da desigualdade étnico-racial e de gênero você destacaria em seu cotidiano profissional?
É preciso expressar um sentimento que é anterior à prática profissional, onde o racismo se fez presente por diversas vezes. Ao observar as relações existentes, me salta aos olhos como ainda precisamos avançar no debate étnico-racial. Por vezes a sociedade visualiza o preconceito em manifestações abertas, sem realizar uma análise histórica e estrutural. Tenta-se impor condição de igualdade de oportunidades, naturalizando as relações existentes, com atitudes veladas que despontam preconceitos. Por vezes tento suprimir falas que atribuem ao cargo exercido, a um discurso marcando pelo mérito. Sendo uma mulher e negra sofro de uma dupla opressão.

As discriminações existem e, no atual contexto, se perpetuam, são trazidas enquanto verdades, reproduzindo exclusão social. Assim, amplio minha defesa em expandir no meio acadêmico e profissional a discussão da temática, com participação e debate, de forma coletiva para reprimir práticas de dominação.

CRESS-17: Agradecemos sua contribuição! Por último, deixe sua mensagem para a categoria para o dia do/a assistente social:
Primeiro parabenizo a CATEGORIA, que de forma expressiva vem se posicionando frente aos ataques às políticas públicas. Saliento a importância da RESISTÊNCIA para atravessarmos este contexto crítico, de manipulação, com tendência a enfraquecer os movimentos e conquistas existentes. Ressalto: é preciso fortalecer nosso compromisso pela ampliação e consolidação de direitos! Juntos e Juntas na busca pela participação política dos sujeitos, garantido direitos e a democracia!

Acessem os links dos materiais citados:

*Resolução 533/ 2008: http://www.cfess.org.br/arquivos/Resolucao533.pdf

*Cartilha “Meia Formação não garante um direito”: http://www.cfess.org.br/arquivos/BROCHURACFESS_ESTAGIO-SUPERVISIONADO.pdf

*“Parâmetros para atuação de Assistentes Sociais na Política de Assistência Social”: http://www.cfess.org.br/arquivos/Cartilha_CFESS_Final_Grafica.pdf

Termo de Orientação CRESS- ES: Requisições e/ou Imposições Institucionais demandadas ao Serviço Social, Incompatíveis às Defesas e Normativas Profissionais / Práticas Conservadoras / Projeto Ético-Político http://www.cress-es.org.br/wp-content/uploads/2017/11/Termo-de-orientacao-requisicoes-institucionais-incompativeis-com-o-SSO.pdf

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