A gestão “É preciso estar atenta e forte” conversou com a assistente social e co-coordenadora do programa Universidade Aberta à Pessoa Idosa, Monique Simões Cordeiro, para trazer à categoria algumas informações úteis e de orientação sobre o atendimento a pessoas idosas, em celebração ao Dia Internacional da Pessoa Idosa, celebrado neste sábado, dia 01 de outubro.
Monique é atual conselheira do CRESS e, atualmente, também representa a entidade no Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa (CEDDIPI). Ela se formou na UFES em 2013, e é mestra em Política Social pela mesma instituição.
Para esta conversa, Monique ainda nos traz informações sobre os desafios para o Serviço Social na atuação profissional em serviços e espaços de atendimento a pessoas idosas, além de também abordar questões sobre etarismo e a necessidade de superarmos mais preconceitos.
Pode nos contar sobre a sua experiência profissional com a temática da pessoa idosa?
Minha inserção com a temática da pessoa idosa foi no programa de extensão da Universidade Aberta à Pessoa Idosa, criado em 1996 e que tem o objetivo principal de promover a educação continuada para pessoas a partir de 60 anos. Comecei minha trajetória na UNAPI em 2016 e, no ano seguinte, fui eleita como conselheira no CEDDIPI, representando a UNAPI. Continuo no conselho, atualmente representando o CRESS/ES. O espaço dos conselhos é crucial na luta por melhorias de políticas públicas para a população idosa.
Quais desafios podemos apontar e que são encontrados no cotidiano de profissionais que atuam com serviços e/ou em espaços de atendimento à pessoa idosa?
A transição demográfica, com o envelhecimento populacional, exige do poder público novas posturas para responder às demandas da população que envelhece. Entretanto, a partir da década de 1990, com a implementação do projeto neoliberal no Brasil, assistimos à reestruturação do Estado, que aliado ao capital, promove ações na contramão do previsto pela Constituição Federal (CF) de 1988, resultando na redução do financiamento das políticas sociais e reforçando o sucateamento e o caráter residual e focal dos mesmos.
Um dos principais desafios é a visível desigualdade na divisão de papeis entre família, sociedade e Estado no cuidado à pessoa idosa. Esse último continua pensando em famílias funcionais, ou seja, que atendam às necessidades integrais da pessoa idosa sem necessitar do aparato estatal, e não avança em políticas de apoio às famílias.
É possível observar, ainda, a disseminação da ideia – principalmente pela mídia, que também serve aos interesses da classe hegemônica – de que a velhice vem desmantelar o sistema de seguridade social, colocando o envelhecimento da classe trabalhadora como um problema social, como algo que onera o Estado. Dessa forma, as políticas públicas voltadas para essa população são escassas e com pouca transferência de recurso.
Como podemos reforçar a importância da presença e da participação do Serviço Social nessas instituições?
Envelhecer em condições dignas não é um direito nesta sociedade que vivemos, mas um desafio para classe trabalhadora que vive com a reprodução da ideia de que essa é uma responsabilidade do próprio indivíduo, visto que a suposta “fórmula” de envelhecer com saúde está posta, quem não a segue é irresponsável e negligente. Dessa forma, compreendemos que profissionais de Serviço Social possuem um olhar crítico da realidade, crítico à individualização e culpabilização dos sujeitos por todos os desdobramentos de sua vida, inclusive de saúde. Além disso, os/as assistentes sociais, a partir dos fundamentos teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos possuem a capacidade de elaborar respostas qualificadas, que não sejam fragmentadas e imediatistas para diferentes demandas sociais.
Pode deixar uma mensagem para a categoria sobre a importância de se discutir o etarismo, independente da área de atuação da/do profissional?
Etarismo, idadismo ou ageismo referem-se ao preconceito, discriminação e criação de estereótipos com base na idade. Esse processo pode ser velado, por exemplo, a partir de brincadeiras e comentários desagradáveis: “essa roupa não é para sua idade”; “você está velho demais para isso”; “nem parece a idade que tem”; “idoso não entende de tecnologia”, e etc. Ou de forma explícita, como não ser chamado para uma entrevista de emprego por causa da idade.
A sociedade capitalista estabelece a juventude como padrão desejável, e aos mais velhos são atribuídas conotações desagradáveis no que tange a sua condição física e mental.
Conforme relatório de 2021, elaborado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), uma em cada duas pessoas no mundo já realizou ações discriminatórias que pioram a saúde física e mental dos idosos. O resultado dessas ações e atitudes também provocam a negação e não aceitação da velhice como um processo natural. É comum pessoas idosas terem baixo autoestima, sentimento de desamparo, aumento da solidão, além de terem maior probabilidade de depressão.
O enfrentamento ao idadismo pode se dar a partir de algumas ações: fazer entender que o processo de envelhecimento é algo natural; não aceitar a prática de piadas ofensivas contra a pessoa idosa; não infantilizar ou tratar a pessoa idosa com falas pejorativas; observar a mudança de comportamento da pessoa idosa quando está em determinados locais ou conversas que demonstram sentimentos de mal-estar e baixa da autoestima; ensinar aos mais novos sobre a cultura do respeito e valorização das pessoas idosas; observar falas ofensivas e discriminatórias contra a pessoa idosa e denunciar a violência praticada (BRASÍLIA, 2020).
Fonte > Cartilha Violência contra a Pessoa Idosa: vamos falar sobre isso?
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