Uma vida livre de discriminações e violências é um direito de todas as mulheres! Essa foi a fala que permeou todo o seminário “Respeita as Mina!”. O evento promoveu o diálogo sobre a violência de gênero contra mulheres lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. O seminário aconteceu na última quarta-feira (22), na Ufes, e foi uma ação do projeto Papo Reto: Respeita as Mina desenvolvido pela Associação GOLD com apoio financeiro do ELAS Fundo de Investimento Social e Instituto Avon.
Na mesa de abertura, ao lado de outras entidades e movimentos sociais, a presidenta do CRESS, Pollyana Pazolini e a assistente social Tuanne Almeida, representante do Fórum de Mulheres do Espírito Santo e da Santa Sapataria, reforçaram a importância do debate.
O Seminário começou na parte da manhã com uma Mesa de Debate sobre “A violência contra mulheres lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais no Brasil e no Espírito Santo”, com coordenação de Maria Helena, mulher trans e estudante de Serviço Social, e contou com as convidadas Dra. Valdenízia Peixoto (UNB), Bruna Benevides (ANTRA) e Ana Paula Monteiro (GOLD). Foram abordadas a violência histórica e sistêmica contra a população LBT. Apresentou-se ainda resultados do Dossiê sobre Lesbocídio e as mortes de um casal de mulheres lésbicas em Linhares, brutalmente assassinadas por um vizinho, foi lembrada.
O Seminário continuou à tarde com a Mesa: “A aplicação a Lei Maria da Penha na proteção de mulheres lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais”, com coordenação de Natalia Patrocinio (Santa Sapataria). Ela abordou o contexto de insegurança que vivemos nessa conjuntura e como os movimentos sociais e ativistas estão se sentindo ameaçados, sendo o momento de repensar as estratégias. A mesa também contou com a participação da representante da Defensoria Pública, Gabriela Larrossa, da Delegada Natália Sampaio (DEAM) e da Conselheira do CRESS e membro do Fórum de Mulheres do Espírito Santo, Emilly Marques Tenorio.
Gabriela Larrossa iniciou a mesa explicando o funcionamento da Lei Maria da Penha e detalhes que poucos conhecem. “A Lei é aplicada em violência quando há laços afetivos ou familiares, independente de coabitação, como no caso de namorados que não moram juntos”.
A Delegada Natália Sampaio iniciou a sua fala pedindo desculpas pela instituição que está muito longe de oferecer um atendimento ideal, seja para mulheres cis, seja para mulheres trans. “Mesmo assim, eu reforço que devemos continuar buscando a delegacia, devemos continuar cobrando um atendimento mais humano, por que só assim vai começar a mudar”.
A Conselheira Emily Tenorio encerrou a mesa e abordou um pouco sua experiência de trabalho no TJ-ES e os desafios do trabalho do Serviço Social.
A sua fala priorizou o respeito a história e a trajetória das mulheres que buscam os serviços e que, algumas vezes, preferem espaços alternativos as instituições legais. “Não podemos depender apenas das Leis e das Delegacias, por conta dos traumas que muitas mulheres já vivenciaram nesses espaços e porque sabemos que as nossas intuições são patriarcais, racistas e elitistas. Precisamos construir alternativas, estar presentes nos fóruns, nos conselhos, nos movimentos sociais e coletivos e construir com essas mulheres alternativas que contemplem suas necessidades concretas e subjetivas”
A Assistente Social, porém, reforçou que não está isentando as instituições dos seus deveres, e falou que é importante continuar cobrando, “não devemos nos calar!” e ter um exercício profissional comprometido com nosso projeto etico-político, mesmo com todas as contradições da realidade institucional.
Para finalizar, Emilly falou dos desafios dos trabalhos do Serviço Social, mas que não devemos desanimar. “Precisamos acolher essas mulheres, não podemos desistir delas. Claro que há momentos que nos sentimos frustradas também, mas vamos coletivizar as demandas e dividir as responsabilidades. Outra questão é fortalecer outros eixos da Lei Maria da Penha, que não seja só o punitivo, a prevenção e a assistência precisam ser mais exploradas. E o mais importante: preparar a mulher para esta caminhada, que pode ser longa e difícil”.
Ao final Emily encerrou com um poema em homenagem à Marylucia Mesquita, o qual destacamos o trecho final:
“Fica em nós a sua melhor porção de bruxa:
a vontade de subverter esse mundo
e uma pitada excessiva de ousadia!
Revolucionar, essa era sua lição mais diária…
O ano velho vai partindo,
você partiu mas fica seu legado,
ficam as boas lembranças,
fica tua presença marcante em verso, prosa e luta
Mary você se fará presente nas ruas,
nas bandeiras
que possamos enxugar as lágrimas,
preparar nossas esperanças e ter coragem
pra fazer um ano realmente novo”.
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