CRESS-ES entrevista equipe do Serviço Social do Hospital Estadual Dório Silva | CRESS-17

CRESS-ES entrevista equipe do Serviço Social do Hospital Estadual Dório Silva

08/04/2020 as 6:56

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Nesta semana foi celebrado o Dia Mundial da Saúde, no dia 07 de abril. Em decorrência da data, e em especial devido à pandemia da COVID-19, e as diversas demandas que se apresentaram à Comissão de Orientação e Fiscalização – COFI, o Conselho Regional de Serviço Social do Espírito Santo (CRESS-ES) entrevistou as Assistentes Sociais que compõem a equipe do Serviço Social do Hospital Estadual Dório Silva (HEDS).

Essa entrevista surge como uma forma de dar visibilidade ao trabalho profissional do Serviço Social diante dos desafios vivenciados nesse cenário de crise sanitária, compartilhando a experiência acumulada e sistematizada pelas profissionais.

A entrevista foi realizada pela assistente social Sabrina Lúcia, conselheira vice presidenta do CRESS-ES. A equipe do hospital é formada pelas assistentes sociais Andréa Cardoso,  Ednéia Bittencourt, Fabiula Bertolani, Ivanete Santos, Mirella Alvarenga, Renata Carina, Selma Tavares, Zenilda Pettene, Kene Pariz e Mayara Serpa, esta sendo responsável pela coordenação.

“Agradecemos o convite para a entrevista e ficamos satisfeitas em poder contribuir com a categoria, partilhando as lutas e reflexões que a equipe do Serviço Social do Hospital Estadual Dório Silva (HEDS) vem construindo para garantir as prerrogativas profissionais, ainda que em tempos de pandemia”, reforça a equipe.

Sabrina Lúcia – Como o Serviço Social tem se organizado diante das mudanças ocorridas nessa unidade hospitalar, em virtude da Pandemia?

Equipe Serviço Social do HEDS – Fortalecendo a equipe do Serviço Social, tentando nos manter coesas. Isso possibilita que as intervenções e participações do Serviço Social no processo de adequação do atendimento do HEDS, junto à gestão e aos demais setores durante o período de urgência em saúde, reflita o posicionamento coletivo que seja mantido mesmo com possíveis investidas contrárias.

As contribuições deste alinhamento estão refletidas no processo de reorganização do serviço, em que a participação do Serviço Social foi essencial para garantir o direito dos/as usuários/as, mantendo os cuidados de prevenção à COVID-19 para estes/as, para os/as acompanhantes e, também, para os/as profissionais de saúde.

Neste período de urgência em saúde foram pensadas, por exemplo, as alterações dos protocolos relacionados ao direito de permanência de acompanhante. E, assim, conseguimos alguns avanços: manter a presença para aqueles/as pacientes com prerrogativa legal; estabelecimento da mensagem virtual por videoconferência, processo construído em conjunto com o setor de psicologia que contribui para a manutenção do vínculo familiar; acesso aos pertences encaminhados pelas famílias para os/as usuários/as que não têm a previsão legal da permanência de acompanhante – esse processo foi construído com os secretários/as de clínica que são responsáveis por levar e trazer os pertences da portaria central até o/a usuário/a; a articulação com a gestão do hospital para a garantia do repasse do boletim médico dos setores prioritários, como os CTI’s e a Sala Vermelha, pelo/a profissional habilitado/a para prestação desta informação. Além do incentivo interno com os/as profissionais sobre a importância no repasse das informações do quadro de saúde dos/as usuários/as internados/as das demais enfermarias para que eles/as próprios/as tenham condições de compartilhar com suas famílias o andamento da assistência no HEDS enquanto permanecem internados/as.

S.L. – Quais têm sido os principais desafios para assistentes sociais no exercício profissional?

Equipe – Embora haja tentativa de adequação do espaço físico para os atendimentos do Serviço Social, este ainda se configura como um desafio, devido à dificuldade de disponibilidade de sala que já existia e que se intensificou com o aumento da demanda para o HEDS. Assim, além do uso de EPI, alteramos a disposição dos móveis da sala para propiciar o distanciamento, conforme as orientações das organizações sanitárias, e incluímos o atendimento por telefone e e-mail.

Outro desafio que permanece é a articulação com a rede de serviços das diversas políticas públicas, que sofreram alterações na rotina de atendimento – os de saúde (consultas e exames), os de previdência social (suspensão da perícia médica e avaliação social para acesso ao Benefício de Prestação Continuada) ou da assistência social com as alterações da rotina de horário de atendimento, critérios de acesso a serviços de acolhimento.

Um exemplo da dificuldade de articulação entre serviços que encontramos neste cenário da pandemia foi o retorno de um município do Estado que informou que o acesso ao transporte sanitário será por ordem judicial. Então, na tentativa de estabelecer novos fluxos com setores de transporte sanitário dos municípios, visto que precisaremos contribuir com a agilidade na rotatividade dos leitos para garantir assistência em saúde ao maior número de usuários/as, a gestão do HEDS foi informada da situação para que a Secretaria Estadual de Saúde estabeleça este diálogo e firme um fluxo com os municípios.

Ainda estamos tentando nos antecipar na identificação das equipes responsáveis pelo benefício eventual de auxílio-funeral dos municípios, para garantir acesso aos usuários/as que dele demandar, e também estabelecer fluxo de acesso aos serviços de acolhimento institucional para as pessoas em situação de rua, garantindo a proteção desse público após a alta hospitalar. Também estamos elaborando um informativo que trata do acesso ao auxílio emergencial, considerando que já temos essa demanda em nosso processo de trabalho.

A necessidade de reorganização da equipe pelo afastamento de profissionais que compõem o grupo de risco também se apresentou como um desafio. A equipe é composta por oito assistentes sociais e três estão no grupo de risco. Tem uma profissional gestante e duas idosas, uma delas hipertensa.  Foi necessária articulação com a gestão para conseguirmos a ampliação da equipe. Embora seja um desafio, é importante frisar o papel da equipe e da coordenação do Serviço Social que, desde o início deste processo, quando ainda não havia um posicionamento do Estado que protegesse este grupo dentro dos estabelecimentos de saúde, se posicionou para que fossem asseguradas as condições de trabalho que não expusessem as profissionais ao risco.

Uma profissional já foi contratada, e está em andamento a contratação de mais um/a assistente social. E das assistentes sociais do grupo de risco, temos uma em trabalho remoto enquanto as outras foram remanejadas para atividades que garantam alguma proteção a elas.

Por fim, estamos a todo momento sendo requeridas a assumir atribuições incompatíveis com a profissão, mas pelo alinhamento da equipe do Serviço Social construído ao longo dos anos no HEDS pelas assistentes sociais que aqui atuaram e pelas que se mantem na equipe, estamos conseguindo manter autonomia do trabalho e dos encaminhamentos.

S.L. – Quais as principais demandas estão mais recorrentes? Institucional ou dos/as usuários/as?

Equipe – A demanda maior dos/as usuários/as, hoje, é em relação ao acesso aos serviços da rede, seja de saúde, seja de previdência, seja de assistência social. Por exemplo, nunca tivemos tanta necessidade de contato com as farmácias cidadãs estaduais, como agora. São muitas alterações de fluxo de atendimento.

Das demandas institucionais, a proporção maior diz respeito às orientações de alterações dos fluxos e das rotinas do hospital e, também, as orientações de prevenção da COVID-19.

S.L. – Quais estratégias vocês tem adotado para manter a qualidade no atendimento, e a defesa de nosso posicionamento ético? 

Equipe – Logo que a Secretaria de Estado da Saúde iniciou os informes de que teríamos alterações não só no HEDS, mas em todos os serviços de saúde do Estado, a equipe do Serviço Social fez uma reflexão em sua reunião para entender a realidade posta com a COVID-19, de forma crítica com dados da realidade. Utilizamos um texto orientador que nos ajudou a refletir sobre os determinantes sociais de saúde que influenciariam neste cenário e que reforçou a importância de mantermos firmes na luta em defesa do Sistema Único de Saúde e das prerrogativas da categoria.

A reflexão inicial possibilitou a equipe pensar sobre as possíveis implicações para o setor no sentido de planejar e adequar o processo de trabalho no Serviço Social e alinhar as respostas para as novas demandas, considerando a realidade sanitária, sem perder de vista as atribuições, competências e o direcionamento ético e político do Serviço Social.

S.L. – Como estabelecem uma rotina de trabalho coletivo e/ou multiprofissional sem abrir mão das atribuições privativas e competências de nossa profissão?

Equipe – O alinhamento que a equipe do Serviço Social constrói nas reuniões semanais são fundamentais para a articulação e construção do trabalho coletivo e/ou multiprofissional. Quando vamos para as discussões da instituição levamos previamente as argumentações teóricas e técnicas específicas da nossa área, construídas pela equipe, para estabelecermos o diálogo com as demais categorias.

Tentamos sempre utilizar expressões do vocabulário próprio do Serviço Social, expor os instrumentos e técnicas utilizadas a fim de explicitar que a intervenção do Serviço Social requer habilitação e está fundamentada num aparato científico.

S.L. – Como a equipe tem lidado com as requisições institucionais incompatíveis com a nossa profissão? 

Equipe – Buscando informações atualizadas nos órgãos da classe (conjunto CFESS/CRESS, Sindicatos), nos sites do Ministério da Saúde, da Organização Mundial de Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo, no Diário Oficial, para refletir e alinhar o posicionamento do Serviço Social antes de estabelecer o diálogo com a instituição.

Entendemos a necessidade de flexibilidade em alguns casos, tais como o atendimento às famílias em relação à alteração de rotina, que a princípio é tarefa de todos/as, mas que assumimos entendendo que as demais categorias assumiram outras tarefas institucionais também. Contudo, diante de algumas, tal como o repasse do boletim médico, avaliamos que não é possível de flexibilização e nos posicionamos para que o profissional habilitado se mantivesse como responsável.

S.L. – Como a população usuária tem percebido a atuação e a relevância do Serviço Social nesta unidade?

Equipe – O reconhecimento da importância da nossa atuação se apresenta na busca do atendimento pelos/as usuários/as com demandas que de fato nos compete, tais como a garantia de acesso aos demais serviços da rede, da manutenção do vínculo familiar, enfim, na busca de acesso aos direitos.

 

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